— pandora!
15 de Fevereiro, 2018
Alguma coisa estava errada, e não era o Apocalipse iminente. Havia dias que Pandora vinha sentindo uma sensação estranha em seu interior, um tipo de frio em sua espinha, uma constante urgência por algo que ela não conseguia identificar, como se de repente tivesse ficado sem alguma coisa que sequer sabia que a mantinha de pé. A primeira vez que a sentira, fora pouco depois da sua última interação com Michael, e o sentimento não a abandonara desde então.
A única coisa que a impedia de retornar ao poço, era a certeza de que corrigiria tudo aquilo.
Ela realmente esperava que a nova versão de si mesma nunca precisasse saber a verdade sobre o que fizera; a verdade sobre o que os dois haviam se tornado.
Depois de três dias de viagem, Cordelia e Myrtle retornaram ao chalé com a notícia de que todos os magos estavam mortos, assassinados e desmembrados pelo Anticristo. Pandora mal esboçara uma emoção frente a isso, imediatamente sugerindo que o internato subterrâneo poderia acabar servindo como um abrigo durante o ataque nuclear. A Suprema demonstrara demasiada surpresa frente à informação sobre as bombas, e tanto Pandora quanto Madison tiveram de explicar como sabiam disso, mantendo em segredo toda a situação do espelho. Felizmente, as duas bruxas mais velhas estavam ocupadas demais com seu próprio luto e desespero para repararem nas cinco marcas roxas que arrodeavam o pulso da híbrida, ou os cacos de vidro escondidos aos montes em um cantinho da cabana.
Existia uma tensão pairando entre o quarteto de fugitivas, quase palpável para o sexto sentido da Williams. Ela não se esquecera do tapa, e a Goode certamente não se esquecera do ato de traição cometido pela jovem ao dormir com o homem responsável pela extinção do seu clã. Pandora queria culpá-la por estar com raiva, porém acreditava que sua reação seria ainda mais extrema se fosse ela no lugar da Suprema.
No geral, a híbrida merecera aquele tapa. E merecia outro, levando em conta o quão imbecil fora ao quase permitir que Michael a levasse.
Apesar de ter quase certeza de que era imortal, Pandora não estava em posição de testar essa teoria ao se expor a uma explosão nuclear; se morresse, com ela morreria também a única chance que o mundo possuía de se recuperar daquilo.
De acordo com Myrtle, a lama do pântano sobre o qual se encontravam possuía propriedades de cura. A Suprema conhecia um feitiço que as faria hibernar sob a terra mágica até haver o rompimento do espaço-tempo, de maneira que nenhuma morreria, ou seria encontrada por Michael, uma vez que suas magias estariam adormecidas.
Apesar de não ser a maior fã de ser enterrada viva, a híbrida preferia isso à radiação.
Portanto, na noite daquele mesmo dia, Pandora permitiu que a terra clamasse por ela.
E entrou em um profundo e longo sono sem sonhos, sem saber se algum dia acordaria.
31 de Outubro, 2021
DEPOIS DO APOCALIPSE
O primeiro ar puro que chegou aos seus pulmões causou o que Pandora acreditava ser o maior alívio que já sentira na vida, e poderia assumir que as bruxas ao seu lado pareciam experienciar a mesma sensação.
Esse alívio, entretanto, não passou de um sopro insignificante quando Pandora chegou à superfície, todos os seus sentidos — humanos e sobrenaturais — captando a pior energia que ela já presenciara na vida. Se se esforçasse um pouco, poderia ouvir as lamúrias dos mortos e farejar a decadência da humanidade.
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ME AND THE DEVIL ➸ michael langdon
FanficPandora Williams sempre odiou sua vida. Abandonada pela mãe com o pai misterioso que nunca fala sobre seu passado, ela jamais entendeu o que significa pertencer; se encaixar. Jamais teve um propósito. Em um dia que deveria ser tão normal quanto todo...