— pandora!
08 de Novembro, 2017
Pandora era péssima em xadrez.
O jogo era confuso e possuía regras demais. A ruiva não gostava de ter que pensar quando tentava se divertir, não gostava de montar estratégias para prender o rei de Michael — que parecia praticamente prever seus próximos passos no jogo. Ela preferia estar jogando um jogo de baralho, nos quais era estranhamente boa, ou assistindo a algum filme de comédia.
— Esse jogo é sempre entediante assim? — perguntou, a voz manhosa conforme andava uma casa com seu peão. Embora fosse apenas a segunda partida que jogavam, parecia que estavam naquele jogo havia dias.
Correndo o bispo na diagonal, Michael capturou um dos cavalos de Pandora, que o xingou baixinho.
— Talvez seja entediante para você, que não sabe jogar — o Langdon retrucou, erguendo o olhar do tabuleiro para o rosto dela.
— Ou talvez seja porque é um jogo de gente velha que não tem nada para fazer além de reclamar de dores nas costas.
A adolescente andou três casas na horizontal com sua torre, capturando um peão de seu oponente. Ele riu com escárnio de sua escolha, como se soubesse de algo que ela não sabia.
— Você acabou de sacrificar uma torre por um peão — o Anticristo observou, capturando a torre com um bispo que a ruiva não percebera, estrategicamente posicionado para aquilo.
O maxilar da Williams se contraiu.
— Eu queria poder me sacrificar e não ter mais que jogar essa chatice. — Ela moveu seu cavalo para uma casa branca.
— Eu posso dar um jeito nisso, se quiser — Michael brincou, um sorrisinho travesso surgindo em seu rosto. Ele, por sua vez, moveu um de seus peões para a frente.
Pandora riu com deboche do seu comentário.
— Pensei que minha alma não fosse boa o suficiente para ser sacrificada por você. — Ela moveu um dos bispos quatro casas para a diagonal, de modo que ameaçasse um dos cavalos de Michael.
— E não é mesmo — o loiro afirmou, erguendo uma de suas torres e passando-a pelo tabuleiro, capturando o bispo da jovem. — Mas nem todo mundo que eu mato precisa ser um sacrifício, precisa?
Por bons segundos, a Williams considerou atirar o tabuleiro de vidro naquele rosto debochado e terrivelmente simétrico.
— Babaca — murmurou, movendo um de seus peões. — Aliás, por que gosta tanto desse jogo?
Michael deu de ombros, coçando o queixo conforme fitava as próprias peças.
— O meu padrasto, Ben, me ensinou a jogar. Quando eu ganhava dele, me fazia sentir especial, então... — Ele suspirou. — Eu só comecei a gostar da sensação de vencer.
O padrasto de Michael. De acordo com os relatos de Madison e Behold, após a morte da avó de Michael, o fantasma do marido de sua mãe aparecera para ele, oferecendo-o a chance de se redimir e criando-o como o filho que nunca teve. Todavia, aquilo fora por água abaixo por conta de outro fantasma: Tate Langdon, o verdadeiro pai de Michael — e quem Pandora conhecia, devido às homenagens anuais aos mortos e feridos no massacre de Westfield High, em 1994, feito por Tate. Nem Madison, nem Behold pareciam saber exatamente o que aconteceu no momento em que Michael encontrou o pai, porém ambos entraram no consenso de que aquele breve momento fora o suficiente para drenar qualquer esperança que o rapaz tinha em ser bom.
Ela mordeu o lábio, mirando seu rosto concentrado no tabuleiro. Uma parte sua queria abraçá-lo, mas ela sabia que não deveria demonstrar que sabia demais de seu passado — ou ele passaria a desconfiar.
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ME AND THE DEVIL ➸ michael langdon
FanfictionPandora Williams sempre odiou sua vida. Abandonada pela mãe com o pai misterioso que nunca fala sobre seu passado, ela jamais entendeu o que significa pertencer; se encaixar. Jamais teve um propósito. Em um dia que deveria ser tão normal quanto todo...