63. stand under my umbrella

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— michael!

26 de Novembro, 2017

Michael conhecia Pandora Williams havia vinte e quatro dias e ele já não sabia o que seria dele se não a tivesse ali.

Era tão fácil não ser o Anticristo perto dela. Pandora não o cobrava, não insistia que fosse algo diferente do que realmente era. Com ela, ele não precisava usar uma máscara.

Com seus filmes favoritos e as competições diárias em jogos de tabuleiros, a Williams conseguira abrir seus olhos para um mundo além de suas responsabilidades como o Anticristo. O único que chegara perto de fazer o mesmo fora Ben Harmon, seu padrasto; mas, diferentemente do fantasma, Pandora parecia, de alguma forma, realmente compreender o que o Langdon sentia sem ele sequer precisar contar a ela.

E Michael era grato por isso. Por ter alguém naquele momento, que poderia tão facilmente ter se tornado a pior época de sua vida miserável, mas estava acabando por se mostrar a melhor.

Ela não era uma arma para ser usada, e aquilo ficava claro em sua mente a cada dia. A verdade era que, se Pandora não quisesse tomar parte alguma no Apocalipse ou na destruição das bruxas, ele pouco se importaria.

Contanto que estivesse do seu lado, impedindo que a energia infernal dentro dele o consumisse por completo, tudo estaria... bem. Bem como jamais esteve.

Michael estava sem aliados, completamente perdido e muito longe de cumprir seu propósito na Terra. Entretanto, ele não estava completamente sozinho. Era bom ter uma amiga. Uma que o entendesse, como ninguém o fez — nem mesmo Miriam Mead.

O Langdon suspirou com o pensamento, a mão pairando sobre a maçaneta destrancada da porta do quarto seiscentos e sessenta e seis, que dividia com Pandora. Michael odiava a forma como tudo poderia mudar com um estalo de dedos. Ele costumava repudiar qualquer imprevisibilidade que não fosse vinda dele, mas tinha de admitir: apesar de ter sido profetizado, toda a droga da sua vida parecia impossível de prever. A única coisa que o rapaz sabia era que deveria causar o Apocalipse, mas não acreditava ser o suficiente para fazê-lo — muito menos para atender às expectativas dos seguidores de seu pai. E aquela tarde parecera jogar isso em sua cara.

Mais uma vez, ele fora convocado por Jeff e Mutt para dar mais detalhes e críticas sobre o trabalho que faziam para recriar sua aliada. No entanto, a dupla de cientistas sempre parecia bastante curiosa em relação aos seus poderes e deveres como Anticristo, atirando suas vontades sobre ele como se Michael fosse uma droga de fonte dos desejos. Caso se tratasse de qualquer outra pessoa, o Langdon os teria assustado ou ordenado que se calassem, mas aqueles dois lunáticos eram responsáveis por trazer de volta sua Mead, então ele sentia-se obrigado a engolir quaisquer baboseiras que fossem atiradas sobre ele — mesmo que sua verdadeira vontade fosse de partir seus pescoços.

Pelo menos ele conseguira convencer os dois a lhe concederem um notebook, de modo que não precisasse sair toda semana para vê-los. Michael imaginou que seria mais fácil controlar a urgência de queimá-los vivos caso estivesse se comunicando com eles através de uma tela, quilômetros de distância.

E, claro, ele não precisaria mais deixar Pandora sozinha. Por algum motivo, o rapaz sempre sentia uma oscilação no seu humor quando a avisava que teria de sair — uma que ela tentava esconder com uma piadinha ou um comentário sobre sua próxima refeição. Era bastante óbvio que a Williams odiava a ideia de ser deixada tanto quanto ele, então Michael tentaria ao máximo evitar que ela se sentisse abandonada.

Ele bufou. Odiava se importar dessa forma com um ser vivo que não era ele, mas não conseguia impedir aquela vontade de protegê-la.

Idiota, pensou consigo mesmo. O Langdon duvidava que a adolescente gastasse seu tempo com pensamentos daquela natureza. Não entrava em sua cabeça que alguém, em sã consciência, poderia se importar com seu bem estar.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora