66. sweater weather

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— pandora!

20 de Dezembro, 2017

Era o último dia de outono e aquela manhã estava anormalmente fria.

Pandora colocou a cabeça para dentro do edredom aconchegante, o nariz mais parecendo uma pedra de gelo. Parecia um ótimo dia para não fazer nada além dormir naquela cama tão macia e convidativa.

Ela o teria feito. Teria virado para o lado e retornado ao reino dos sonhos, onde tudo era um conto de fadas e não havia anjos, demônios ou apocalipses a serem impedidos.

Porém, algo era mais forte que aquela vontade gritante por uma fuga da sua realidade: a vontade de ver Michael, que provavelmente a estaria esperando no cômodo ao lado.

A jovem não conseguiu impedir o sorriso bobo que despontou de seus lábios. Ela segurou o travesseiro mais forte contra o corpo conforme se recordava da sensação da magia de Michael abraçando-a como um manto de escuridão, completando-a em partes que sequer soubera ter falhas.

A troca de poderes do dia anterior a afetara de uma maneira que ela ainda fracassava em compreender. Fora um tipo de intimidade que jamais havia tido antes; algo tão profundo que deixaria uma marca em sua alma que nem mesmo mil anos seriam capazes de apagar.

E ela esperava que o mesmo tivesse acontecido com ele. De uma forma que, mesmo quando ele descobrisse a verdade podre que ela tentava esconder — e ele descobriria eventualmente, ela estava certa disso —, pudesse achar alguma forma de perdoá-la.

Era verdade que ela tivera a oportunidade de contar tudo a ele naquela noite, quando ambos faziam confissões um ao outro. A garota quisera — ah, como quisera —, porém não conseguira. Não poderia dizer com exatidão o que aconteceria em seguida, mas tinha certeza de uma coisa: a missão seria completamente comprometida. Se fosse apenas sua vida em jogo, aquela vida miserável que tanto odiava, ela teria revelado todo o plano; teria revelado o seu motivo para estar ali. Entretanto, a híbrida era imortal, e teria de assistir a sete bilhões de pessoas sofrerem pela catástrofe que seu capricho poderia criar.

Portanto, guardara aquele segredo amargo em si, que continuou corroendo-a de dentro para fora como vinha fazendo havia um mês.

Pandora não mentira no que dissera, porém: ela daria cada pedaço do seu coração quebrado pela chance de ter conhecido Michael antes, em uma época em que não tivesse de mentir e manipular; em uma época em que sua lealdade não estivesse comprometida como estava naquele momento.

A ruiva engoliu o nó que se formou em sua garganta, balançando a cabeça a fim de afastar aqueles pensamentos. Não queria que a energia radiante com a qual acordara fosse apagada por aqueles contemplações tempestuosas.

Ela colocou as pernas para fora da cama, sentindo os pelos se eriçarem com o frio. Nas pontas dos pés para evitar o porcelanato congelante, seguiu até o banheiro.

Apesar de tê-los escovado um dia antes, seus cabelos estavam exclusivamente rebeldes naquele momento. A menina rosnou, prendendo os fios ruivos em um rabo de cavalo. Em seguida, escovou os dentes.

Ela deixou o quarto trajando uma calça de moletom e um suéter. Como esperado, Michael estava arrumando o balcão para que pudessem tomar café-da-manhã, usando um de seus sobretudos — coisa que a híbrida jamais o vira fazer quando estava dentro de casa.

De uma forma impulsiva, imprudente e levemente infantil, ela correu em sua direção, a fim de surpreendê-lo por trás com um abraço.

Michael arfou com o contato, os músculos das costas se contraindo e relaxando em um espaço de poucos segundos.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora