104. horsemen of apocalypse

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— michael!

O mundo inteiro girava. Seus pulmões queimavam como brasas ardentes em seu peito e seu rosto inteiro estava coberto de sangue.

Michael sabia, antes de abrir os olhos, que não estava em casa. Conforme seus sentidos retornavam, ele pôde sentir a superfície em que estava sentado. Tentou se mover e chiou quando as cordas que o amarravam à cadeira queimaram a pele de seus pulsos e tornozelos.

— Eu não tentaria isso se fosse você — alguém disse. Ele reconheceu aquela voz forte e explosiva, fora a última que escutara antes de perder a consciência.

Um puxão invisível. Então dois.

O Anticristo abriu os olhos.

Sua vista se ajustou à claridade escassa. Ele enxergou paredes descascadas, um teto de metal com pedaços faltando e muita poeira. A pouca luz presente vinha de duas lâmpadas fracas demais para iluminar o galpão todo.

Ainda assim, era iluminação suficiente para que ele enxergasse as criaturas adiante: os Cavaleiros do Apocalipse.

Michael não precisou que se apresentassem, soube quem cada um deles era apenas ao pôr seus olhos sobre eles.

Fome era o mais alto deles, o corpo esquelético parecendo se curvar sobre ele. A pele era uma fina camada pálida que parecia borracha esticada pelos ossos finos e pontudos. As bochechas eram tão fundas que os lados do rosto pareciam ter sido cavados, os cabelos eram de um loiro desbotado que escorria pelos seus ombros sem brilho e sem vida e os lábios eram uma linha fina que cobriam o rosto quase que de um lado ao outro.

Ao seu lado estava Guerra: um homem baixo demais comparado a Fome e com dentes cerrados em algo que era mais um convite para uma briga do que um sorriso. Seu olhar era definitivamente a coisa que mais chamava a atenção nele: a parte que deveria ser branca estava tomada pelo vermelho, envolvendo a íris preta; vasos sanguíneos pulsavam em escarlate, iniciando em seus olhos e desaparecendo por baixo dos cabelos castanhos.

Por fim, havia Peste. Ela tinha cabelos de um vermelho intenso na altura do queixo — muito diferentes dos de Pandora, que lembravam a fogo, os dela lembravam a sangue. Seus olhos eram de um verde quase fluorescente e viscoso, decorados com profundas olheiras por baixo deles. Os lábios carnudos estavam rasgados, como se a pele tivesse se corroído de dentro para fora.

Morte não estava presente: ela sempre fora imparcial.

Além dos três, havia um grupo de quatro demônios dentro do galpão abandonado, escorados nas paredes e bem longe do Anticristo e seus três companheiros. E, pelo que ele pôde sentir, havia mais dois na entrada do lugar.

— Água benta, esperto — Michael observou, indicando as próprias amarras. Levando em conta a essência dos cavaleiros, o líquido era tão nocivo a eles quanto ao Anticristo. — Que coisa mais maquiavélica: queimarem a si mesmos apenas para me amarrar.

Fome deu de ombros.

— Não se compara à angústia que é viver em um mundo que não viu o Apocalipse.

O rapaz sentiu um arrepio na base de sua espinha, e o correspondeu.

— Isso... — Estalou a língua, inclinando a cabeça. — Não está nos meus planos.

As veias ao redor dos olhos de Guerra pulsaram com mais força.

— Não podemos apenas convocar Satã logo? — o cavaleiro insistiu, cerrando os punhos.

— Não — rosnou Peste, aqueles olhos venenosos sobre o rapaz. — Assim que Satã souber onde o garoto está, ele vai matá-lo sem pensar duas vezes. Não aguentarei esperar mais uma década até o novo Anticristo estar pronto.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora