23. ghost talk

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— pandora!

Depois do seu quase beijo com Michael, Pandora tentou simplesmente ignorar que aquilo algum dia acontecera — embora fosse complicado.

Ela tinha consciência de que, enquanto não estivesse bem resolvida consigo mesma, não poderia nunca ficar bem resolvida com o Langdon. Essa era a sua dura realidade; seu amor teria que esperar sua sanidade estar de volta aos trilhos, ou acabaria por levar Michael para o fundo do poço junto de si.

— Pandora. — A Williams comia uma tigela de cereal na cozinha quando ouviu alguém chamá-la. Ela virou-se e viu Ben.

No dia anterior, sem querer, o tinha visto fazendo algo íntimo. Aquilo foi, de fato, muito constrangedor.

— Oi — disse, tentando não deixar a situação ainda mais embaraçosa.

— Queria pedir desculpas por ter visto aquilo ontem — o homem pediu, hesitante. — Eu deveria estar invisível.

— É, bom, essa coisa de "invisibilidade" não dá mais certo comigo aqui. — Ela riu, fazendo aspas com os dedos. — E não se preocupe, todo mundo faz essas coisas. É natural querer se aliviar das tensões do dia a dia.

Não chorando, mas cada um com suas peculiaridades, completou mentalmente.

— Que bom, fiquei até com vergonha de aparecer hoje — o fantasma admitiu e Pandora riu, compadecendo-se com seu constrangimento.

— Se serve de consolo, eu também já quase fui flagrada — contou, colocando uma colherada na boca.

— É sério? Por quem?

A Williams comprimiu os lábios, lembrando-se do ocorrido de poucos dias atrás.

— Michael — sussurrou e Ben caiu na gargalhada. — Só não conta para ele, vai querer se vingar de mim por tê-lo chamado de punheteiro.

Essa fala só fez com que o Harmon risse mais, sendo acompanhado pela ruiva.

Ben era divertido e Pandora quase sentiu inveja de quem era sua filha. Ela queria ter tido momentos como esse com seu pai. Talvez, se Gabriel tivesse lhe dado a atenção que merecia como filha, ela poderia tê-lo perdoado por suas mentiras.

E, então, lembrou que ele nunca pediu pelo seu perdão.

Não demorou até que sua risada começasse a morrer lentamente. Maldita fosse sua cabeça, capaz de destruir quase todos os seus momentos alegres com lembranças infelizes.

— Do que estão rindo? — Michael inquiriu, adentrando a cozinha.

— Nada — Foi rápida em responder, enchendo a boca de cereal.

O Langdon sentou-se ao seu lado, pegando a embalagem de Cheerio's e, sem colocar leite ou sequer pegar uma tigela, jogou o conteúdo na boca até enchê-la.

— Esfomeado — murmurou.

Ele tentou retrucá-la, mas tinha cereal demais em sua boca para conseguir fazê-lo, então apenas a encarou como se sua cara de baiacu fosse, em algum aspecto, ameaçadora.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora