43. rise and fall

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— pandora!

Dois dias tinham se passado desde o fim do ritual dos Sete Pecados Capitais, e Pandora já estava de malas prontas para deixar o Hotel Cortez. Uma vez que não precisava mais de um incentivo infernal forçando suas trevas a se libertarem, não via mais nenhum motivo para continuar naquele lugar medonho. Poderia, enfim, cumprir a promessa que fizera à família Harmon de que moraria em um lugar seguro e, de preferência, que não fosse mal-assombrado.

Além do mais, era quase uma certeza que Mackenzie havia se tornado um fantasma, assim como qualquer um que morria dentro o hotel, e, bem, tudo o que a Williams menos desejava era trombar com a alma da antiga amiga vagando por aí — embora ela não representasse uma ameaça, ainda seria um eterno lembrete do que a Angemonium cometera para ativar a sua pior parte.

A ruiva voltaria à sua antiga casa, sem nenhum dos seus pais por perto. Ainda manteria contato com Lilith, que provavelmente possuía algum apartamento de luxo pelo centro da cidade, mas preferia não conviver diariamente com ela; não quando tinha ciência da capacidade da mulher de empurrá-la para além do seu limite.

— Então, vai mesmo embora. — A jovem não precisou se virar na direção da voz para saber se tratar de James Patrick March.

Ela estava sentada em uma das confortáveis cadeiras de veludo vermelho no saguão do Hotel Cortez, suas duas malas maiores da Louis Vuitton estavam repletas de roupas e sapatos, a mala menor continha bolsas e acessórios, enquanto a mochila de mesma marca que carregava nas costas levava seus eletrônicos e utensílios de higiene. Todos os seus itens estavam ali, à sua volta, comprimidos para que coubessem nas malas — ela tinha certeza que pelo menos 85% de tudo aquilo fora um presente de Lilith a ela, no dia que passou pela primeira etapa do ritual: a vaidade.

— Vou. — Tornou-se para olhar o fantasma, notando que a presença sempre majestosa da Condessa Elizabeth o fazia companhia. — Uma pena que não tenha mais ninguém com quem jogar baralho.

O March fez um movimento com o ombro que indicava que aquilo não seria um problema.

— Há tantas pessoas aqui, certamente poderia achar outra pessoa. Quem sabe a menina que você descartou pelos túneis de lixo...

Um nó se formou na garganta da ruiva, que se forçou a engoli-lo. Ela, então, riu com escárnio em uma tentativa de mascarar seu remorso.

— Se estiver querendo se punir por algo, vá em frente, chame-a para jogar com você pela eternidade. — A menina gesticulou com a mão. Usar seu humor negro e nem tão engraçado assim sempre fora a sua melhor forma de esconder suas inseguranças e, bem, daquela vez não seria diferente. — Poderia, inclusive, adicionar sua prima Esther ao jogo. Será tão pacífico quanto o Inferno.

— Ora, ninguém, por mais irritante que seja, seria mais difícil de aguentar que você, Pandora. — A cara da Williams fechou em uma carranca.

— Você sabe que posso matá-lo permanentemente, certo? — ameaçou em brincadeira, cruzando os braços e erguendo a sobrancelha.

Seus olhos negros brilharam com diversão.

— Todavia, é um verdadeiro infortúnio que esteja indo embora — o mais velho prosseguiu. — Passei a me acostumar com suas irritações diárias e, devo admitir, frustra-me não poder acompanhar as coisas deveras fascinantes que está prestes a fazer.

Distorcendo suas palavras difíceis e interpretando-as da forma que desejou, a menina viva respondeu:

— Vou sentir sua falta também, encarnação de Gómez Addams. — Sorriu, ignorando o arrepio que percorreu sua espinha. A careta do homem indicou que ele não entendera a referência feita pela adolescente, ela não esperava que entendesse, afinal; não era da sua época. — Bizarrices a parte, você foi uma boa companhia para minhas tardes tediosas. — Ele deixou que o esboço de um sorriso transparecesse no seu rosto.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora