— michael!
O Rei do Inferno não estava pronto para dar um passo adiante.
Sua respiração era lenta, ruidosa. Seus dedos formigavam, enquanto as pernas mantinham-se firmes no chão por uma força desconhecia. Enfrentara o próprio Diabo três dias antes e, ainda assim, a tarefa que o aguardava parecia assustá-lo tanto quanto. A sombra que se estendia sobre ele era a personificação de árduas memórias, que o mantinham paralisado sobre o asfalto.
— Você consegue. — A voz de Pandora dançou até seus ouvidos. Ela estava do seu lado, contente em acompanhá-lo naquele dia tão importante, talvez um dos mais importantes de sua vida.
Os dedos da híbrida tocaram os seus. Ele apertou as pálpebras por um instante, compartilhando do seu toque calmo. Era seu dever conseguir, sua mais latente responsabilidade: corrigir pelo menos mais um dos milhares de erros que cometera em sua curta vida.
Quando abriu os olhos, a Murder House o encarou de volta.
Estava na hora.
Um toque, e o portão enferrujado se abria para os dois. Eles atravessaram o gramado, aquela névoa de morte e desgraça envolvendo-os como uma velha amiga. Era a primeira vez que entravam na mansão juntos, unidos pelo mesmo propósito.
Muito havia mudado desde o dia que o Anticristo foi surpreendido pela presença de uma jovem hipnotizada pela necessidade de salvar o mundo.
A porta de madeira se abriu para eles, como se a própria casa os recebesse de braços abertos. Michael deu um passo para dentro das quatro paredes que guardavam tantas memórias. O berço do Anticristo, um antro de maldade... o lugar que um dia chamara de lar.
Ele mal inspirara o ar da casa, quando braços o envolveram. As lágrimas presas no canto de seus olhos se libertaram, ao passo que ele apertava Vivien Harmon contra si.
— Eu voltei, mãe — sussurrou, tão baixo que apenas ela seria capaz de ouvir.
Vivien se afastou, os olhos azuis turquesa cintilando. Ela segurou o rosto do filho com ternura, um sorriso de afeto se formando em seu rosto redondo.
— Eu sabia que voltaria.
— Pandora... — A voz de Ben soou pelo cômodo, e mãe e filho voltaram sua atenção a ele. O homem estava parado atônito ao lado de Violet, o bebê Jeffrey dormindo pacificamente em seu colo. — Você está viva! Como... O que...?
A híbrida sorriu, os olhos brilhando com lágrimas que não deixava cair.
— Nós explicaremos tudo depois, mas agora... — Ela fez uma pausa. — Agora, Michael tem algo para fazer.
Os três Harmon se viraram na direção do Anticristo, confusão estampada em seus rostos. Michael suspirou, dando um passo para trás e desfazendo o contato com a mãe.
— É verdade. Eu não vim até aqui apenas para fazer uma visita.
Antes que qualquer um pudesse fazer perguntas, ele fechou os olhos e o mundo se calou por um instante. Sua consciência pairava entre Terra e Inferno, vagando no limbo que era aquele território: o Purgatório criado pela sobreposição dos planos. A Murder House era praticamente uma extensão do Submundo na superfície, uma prisão para as infelizes almas que tiveram o azar de morrer justo naquele pedaço de terra amaldiçoada.
E, como Rei do Inferno, a casa agora era seu domínio. Ele podia fazer o que quisesse com ela.
Então, Michael deu sua ordem. Ele desfez cada uma das amarras que prendia os fantasmas à Terra, desfez aquela prisão amaldiçoada e concedeu a permissão para cada uma das almas seguir para sua além-vida: paz ou danação; qualquer que fosse seu destino de direito.
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ME AND THE DEVIL ➸ michael langdon
FanfictionPandora Williams sempre odiou sua vida. Abandonada pela mãe com o pai misterioso que nunca fala sobre seu passado, ela jamais entendeu o que significa pertencer; se encaixar. Jamais teve um propósito. Em um dia que deveria ser tão normal quanto todo...