114. king and queen of hell

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— michael!

Havia acabado. Michael não conseguia acreditar que havia finalmente acabado.

Não havia mais um Diabo para ditar seu futuro; um projeto de pai para comandar cada aspecto de sua vida. Ele estava livre pela primeira vez. Seu destino era seu e de ninguém mais.

E devia tudo isso à garota ao seu lado. A primeira a se importar com o que ele realmente queria, e não com o que era esperado dele. A única capaz de provar que era possível ir contra uma profecia. A responsável por fazê-lo acreditar que lutar por si mesmo valia a pena.

Se não fosse por Pandora, Michael nunca seria mais que apenas o Anticristo.

Ver seus ombros relaxarem depois de meses de tensão e os olhos brilharem de alívio, acompanhados pelo que poderia ser o sorriso mais radiante que o Inferno já vira, foi o suficiente para curar feridas tão profundas que ele sequer sabia ter. A garota que lutara contra o próprio Tempo por ele; pelos dois.

E que perdera tanto no processo.

Michael não tinha ideia do que acontecera quando Pandora fora arrastada para longe, depois de ver Lilith se sacrificar para salvá-lo. Depois de anos sonhando em ter uma mãe, ela vira a sua ter o coração atravessado. Nem mesmo um mês depois de já ter se despedido do pai.

Não sabia o que fizeram com ela, o que ela vira. Ele não sabia como havia escapado, ou a que preço. Não sabia sequer como começar a perguntar.

Lendo sua expressão subitamente preocupada, Pandora balançou a cabeça em negativa, o sorriso tornando-se ligeiramente menor. O que seus olhos diziam era claro: Hoje não.

Porque aquele momento era de conquista. Aquele momento era deles para aproveitar, e se teriam que adiar assuntos importantes para o dia seguinte, que fosse. Não havia espaço para lutos e funerais na noite de sua vitória.

Porque, apesar de tudo, eles haviam vencido.

A Angemonium entrelaçou o braço no dele, puxando-o para mais perto dela. Sem dizer uma palavra, os dois se dirigiram na direção da Sala do Trono, acompanhados pela multidão de demônios, anjos, bruxas e magos. Do lado de dentro, alguém já havia organizado os corpos em fileiras nas laterais da passarela.

Os dois caminharam até os degraus do trono, ainda manchados pelo sangue de Lilith. O olhar de Pandora demorou-se em seus pés por alguns segundos, mas logo ela prosseguiu inabalada. Ao fim do último degrau, ela se soltou do Langdon e deu alguns passos para a esquerda. Agachou-se, a fim de pegar algo e, quando se colocou de pé, Michael viu do que se tratava.

A coroa de obsidiana. Os espinhos dourados que a rodeavam cintilavam com a luz das chamas em volta, que pareciam brilhar com ainda mais força após sua vitória.

Fazia-se completo silêncio. Pandora ergueu a coroa com as duas mãos, como um prêmio: o seu troféu mais precioso. O Inferno inteiro pareceu prender a respiração naquele momento.

Mas ela não a colocou. Ao invés disso, virou-se de costas para a multidão, o olhar fixo na direção de Michael. Ele mirou-a atônito, o coração batendo com mais força. Percebia o que ela estava fazendo.

Me permite? Seus olhos de safira se mantinham sobre ele.

Michael sorriu, inclinando a cabeça. Apenas se juntar-se a mim.

Não restam dúvidas, Devil Jr.

Ela posicionou a coroa sobre sua cabeça. E com isso, entregou também o Inferno todo em suas mãos.

— Saúdem, o Rei do Inferno — Pandora anunciou, colocando-se ao seu lado.

O Anticristo ergueu o olhar dela para as criaturas aglomeradas adiante. Todos os demônios caíram sobre um joelho, forçando os prisioneiros a fazerem o mesmo. O clã de bruxas e magos curvou o corpo, enquanto os anjos levaram a mão ao coração: ambos em uma forma de representar respeito a uma coroa que não era a sua.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora