— pandora!
Pandora sentiu o feitiço de proteção em volta do galpão se desfazer. As bruxas já haviam recobrado a consciência após a explosão da Adaga Prateada, e mantinham-se em volta de Cordelia Goode, tentando assimilar o que havia acontecido.
A híbrida queria poder confortá-las, mas mal conseguia raciocinar. Não era mais que um caco de vidro pisoteado.
Lilith havia levantado assim que o bloqueio em volta do estabelecimento ruíra, sem dirigir uma única palavra a Pandora. A jovem permanecia ali, ajoelhada ao lado do corpo de Gabriel, a mão ainda encima de seu ferimento, mesmo que não houvesse maneira de curá-lo. Não restava nada do homem que um dia a criara; o homem que ela fora teimosa demais para perdoar em vida.
O pai morrera lutando por ela. Por sua liberdade e por aquilo que ela acreditava. Morrera fazendo o que não fizera em vida.
Tudo dentro de Pandora parecia congelado. A luta contra o arcanjo Michael a preenchera com uma prepotência ingênua: achara que era imbatível, que venceria todos e quaisquer desafios que se apresentassem diante dela. Agora, o chão parecia ruir sob seus pés conforme encarava a perda do pai e da bruxa que a acolhera quando ele falhara com ela. Tudo porque guardara demais daquele poder dentro de si, apavorada com a possibilidade de se esgotar como acontecera mais de uma vez no passado; com a possibilidade de ficar vulnerável como ficara um dia em uma igreja ao longe, incapaz de ajudar a si mesma.
Poderia ter matado todos os Cavaleiros do Apocalipse se não tivesse sido tão covarde. Teria posto um fim nisso antes da primeira morte se não duvidasse tanto da própria capacidade.
As lágrimas não paravam de escorrer. A culpa era um peso esmagador sobre ela, como uma toxina injetada em sua jugular. Medo e culpa, não havia coisa pior que aqueles dois sentimentos; nada tão corrosivo e destrutivo. Aterradores como o sangue que a híbrida jamais quisera que sujasse suas mãos, não importava quão ressentida estivesse do pai.
Ela queria seu diário. Queria esparramar aquelas coisas horríveis que sentia nas páginas do caderno, escrever até a mão estar em carne viva. Queria poder se livrar daquele peso.
Um braço a envolveu, quente e familiar. Sinto muito, disse Michael, de modo que ninguém além dela pudesse escutar. Pandora inclinou-se na direção do toque, apoiando a cabeça no ombro dele. O teria abraçado de volta, mas não queria soltar Gabriel: não podia deixá-lo sozinho.
A Angemonium ouviu asas, então sentiu poderes conhecidos se aproximando. Não se moveu, não precisava: sabia exatamente quem havia chegado.
— Ele está com Pandora. — A voz de Lilith era dura, impassível. Não dava espaço para questionamentos.
Os três arcanjos caminharam até ela, seus passos ecoando pelo piso de concreto.
— Mas que droga... — Rafael rosnou atrás dela, a voz embargada.
Pandora não olhou para ele, não olhou para nenhum deles. Seus olhos permaneceram fixos no pai, e no ferimento que nem ela foi capaz de curar.
— O que exatamente aconteceu aqui? — demandou Salatiel.
A híbrida não conseguiu responder. Não sabia mais como falar.
— Armamos uma emboscada para os Cavaleiros do Apocalipse — o Anticristo respondeu por ela. — Gabriel e Lilith lutavam contra Peste enquanto Pandora me ajudava com Guerra. Peste machucou Lilith, e enquanto ele a curava, o atingiu por trás. — Um soluço percorreu o corpo da jovem e ele apertou a mão sem seu ombro. — Nenhum de nós conseguiu curá-lo.
Rafael e Uriel agacharam-se ao lado do irmão. Pandora não via seus rostos, mas conseguia pressentir a presença de seu luto.
— Quatro irmãos em uma semana — sussurrou Uriel, com pesar. Porém, diferente de Barachiel, Phanuel e Michael, todos eles gostavam de Gabriel.
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ME AND THE DEVIL ➸ michael langdon
FanfictionPandora Williams sempre odiou sua vida. Abandonada pela mãe com o pai misterioso que nunca fala sobre seu passado, ela jamais entendeu o que significa pertencer; se encaixar. Jamais teve um propósito. Em um dia que deveria ser tão normal quanto todo...