85. birthday boy

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— michael!

Era perturbadora a semelhança entre Lilith e sua primogênita falecida. Michael odiava enxergar traços de sua amada no demônio tanto quanto odiava a ideia de trabalhar ao seu lado. Suas atitudes o desconcertavam, sua arrogância o incomodava e sua maneira fria de lidar com a perda da filha o enfurecia.

Vindo de uma criatura quase tão antiga quanto o conceito de demônios, era de se imaginar que ela teria maior controle sobre suas emoções. E também, não era como se o Anticristo pudesse esperar muito vindo dela: afinal, se a mulher não parecera ter problemas em abandonar a filha bebê assim que tivera a chance, por que se dignaria a demonstrar luto pela morte dela?

Estavam sentados em lados opostos da mesa, encarando-se impiedosamente em silêncio. Miriam Mead ao seu lado mantinha uma expressão neutra, os braços cruzados. Ela alternava olhares entre Lilith e Michael, como se não ousasse falar nada antes que uma das duas criaturas infernais se pronunciassem.

O demônio estalou a língua, cruzando as pernas por baixo da mesa.

— Qual é a situação, Anticristo? — interrogou, os olhos verdes fixos em seu rosto como se tentassem arrancar dele um segredo que sequer guardava. — O que planeja fazer? Para o que está trabalhando?

Michael prendeu a respiração, precisando se esforçar para não olhar na direção de Mead em busca de apoio. Precisava constantemente reforçar a si mesmo que era independente e confiante — mesmo que fosse uma mentira; apenas mais uma máscara usada para atingir seus objetivos.

Eram sempre tantas máscaras, que temia se esquecer do que havia embaixo da superfície. Talvez não importasse mais.

— Mead diz que o jeito de acabar com o mundo é magia — ele narrou, a voz surpreendentemente firme. — Eu já fui consagrado como o próximo Supremo, então é apenas questão de tempo até eu aprender o que preciso aqui, e voltar à Hawthorne para liderá-los ao meu favor.

As feições de Lilith se contorceram em uma careta, conforme ela apoiava os indicadores na têmpora.

— Sobre isso... — Soltou uma risada hesitante e o garoto se empertigou no assento. — Temo que não seja viável, não mais.

Ele franziu o cenho, a respiração falhando com a confusão.

— Por quê?

— Depois do pequeno encontro que teve com Pandora, ela ficou um pouco... puta com você, para dizer o mínimo. Ela foi até Cordelia Goode, e disse que o novo Supremo estava fingindo ser um mago. — Ela pareceu, por um segundo, reprovar as atitudes da filha. — E, em troca da sua imunidade, ela expôs o plano dos seus mestres magos. Ariel Augustos já deve estar morto agora, queimado na fogueira, e você não será aceito de volta no clã tão cedo.

Michael engoliu em seco, o choque fazendo seu estômago afundar. Não acreditava que ela havia agido por trás dele daquela forma. Pandora deveria ter respeitado suas vontades, e não o traído desse jeito.

Balançou a cabeça, espantando os pensamentos. Em primeiro lugar, fora ele quem havia errado primeiro, ao decidir ficar em Hawthorne e manter uma mentira ao invés de ir embora com ela; segundo, ela parecera arrependida o suficiente na mensagem de voz que deixara para ele.

A sua última mensagem de voz antes de morrer. Antes de ter seu coração arrancado e a alma apagada.

Michael a perdoava. Ele a perdoava pelos segredos que mantivera dele, a perdoava por tê-lo mandado para longe mesmo quando implorara para que não o fizesse, a perdoava por ir embora sem dá-lo a chance de se defender de suas acusações sobre ele, a perdoava por explanar seus planos às bruxas... ele perdoava tudo. Só a queria de volta, ele faria qualquer coisa para tê-la de volta.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora