96. family reunion

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— michael!

Sentir o toque de Pandora pela primeira vez em meses e ter a confirmação de que os magos se aliariam a eles em sua luta contra Satã aliviou o peso do estado de espírito miserável de Michael após o encontro com Miriam Mead, mas infelizmente não o bastante para fazê-lo esquecer. Fora teimoso em sua crença de que a mulher desenvolvera algum carinho por ele, mas enganara-se, exatamente como a Angemonium havia avisado, mais de uma vez, que se enganaria. Tudo o que Mead algum dia amara nele era sua conexão com Satã e, uma vez que o Anticristo se voltara contra o pai, não havia mais nada que ela prezasse no rapaz.

Uma pontada aguda surgia em seu estômago sempre que se lembrava de todo o horror que causara em nome do seu carinho pela satanista. Havia matado as bruxas como maneira de vingá-la, destruído o mundo para honrá-la e mandado Pandora embora por tentar mostrá-lo a verdade sobre como fora manipulado.

O fato de a híbrida ter continuado a lutar por ele depois de tudo o que fizera era a prova de que ela era a criatura mais incrível de todo o universo.

Pandora passara por tanto por Michael, mais do que ele aceitaria que alguém passasse por ele. Ouvi-la alegar, não pela primeira vez, que ele a salvara tanto quanto ela o salvara, que não desistira de si mesma por causa dele... era demais para o seu coração despedaçado e despreparado. Saber que ela estava se curando aos poucos — o suficiente para tocá-lo, o suficiente para sustentar um banquete inteiro no subterrâneo sem janelas e portas que tanto a assustava — fazia com que pelo menos uma parte de sua alma revolta encontrasse paz.

A paz que Pandora merecia, depois de tudo o que fez pelo mundo que nada fez por ela. O mundo em que acreditava não pertencer.

Quando voltaram para casa, na madrugada do primeiro dia do ano de 2017 — que viviam pela segunda vez —, Pandora não se incomodou em se despedir dele. A noite fora intensa para ela, ele sabia dizer isso apenas pela forma como sua aura rebelara-se durante o banquete.

Eles passaram horas próximos, esmagados pelas paredes que ela contara temer tanto. Depois, ainda tocaram os dedos mindinhos, ultrapassando o primeiro limite que ela estabelecera assim que voltara: sem toques.

O Anticristo fora para a própria suíte, despindo todas as camadas roupas que o sufocavam e sendo derrubado sobre a cama confortável pelo cansaço abatedor.

Estranhamente, nem ele nem Pandora tiveram pesadelos naquela noite.

}{

A híbrida estava na cozinha quando Michael desceu para tomar café-da-manhã, os ombros mais relaxados do que estiveram nos últimos dias e as olheiras menos visíveis. Era nítido que aquele passo corajoso que haviam dado em Hawthorne ajudara seu humor, da mesma forma que ajudara o dele.

— Bom dia — ela cumprimentou, servindo-se com cereal e depois o leite.

— Bom dia — o rapaz respondeu, despejando o leite sobre a tigela e só então colocando o cereal.

Pandora balançou a cabeça, estalando a língua em reprovação.

— Selvagem. — Não era a primeira vez que implicava com ele pela ordem em que preparava o cereal.

Michael não respondeu, ainda um pouco entorpecido com a repentina leveza que tomara conta dela. Não sabia quanto tempo levaria até sucumbir mais uma vez às angústias que vinham afogando-a desde que deixara o Inferno.

Comeram um pouco de seu café-da-manhã em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro conforme suas mentes tornavam-se cada vez mais despertas.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora