17. girls love girls and boys

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— pandora!

Seu domingo estava sendo, sem dúvidas, terrível. Por ser o único dia daquela semana com o pai em casa, Pandora teve que controlar toda a sua raiva e angústia para que pudesse aproveitar ao máximo os raros momentos em que conseguia sua atenção.

Na noite anterior, quando finalmente conseguiu se segurar para não ir atrás de Mackenzie e agredí-la — ou pior —, chorou. E, quando parou de chorar, pensou — e pensou muito. Ela preferia que tudo tivesse parado no choro, que tivesse ido dormir e apenas acordado com a mente limpa, recuperada das palavras nojentas de alguém que um dia chamou de amiga. No entanto, sua mente não conseguia parar de reviver aquilo, de lembra-la que, querendo ou não, a Price estava certa: Pandora não sabia o que era ter uma família.

Seus avós expulsaram seu pai de casa e nunca deram notícia, sua mãe a abandonou assim que nasceu, seu pai se esforçava para pegar o máximo de turnos possíveis no hospital — mesmo que não precisasse do dinheiro extra —, quase como que em uma tentativa desesperada de passar o máximo de tempo longe de casa; longe da filha.

— Sua amiga foi lá no hospital ontem — Gabriel contou durante o almoço, sentado à sua frente na mesa. — Disse que você falou que ia sair comigo.

— Você sabe que odeio bailes — a menina disse, tomando um gole do seu suco.

— Você não deveria mentir, porém. — Encarou-a, repreendendo sua ação.

— Não se preocupe, não vou mentir para elas de novo. — Desviou o olhar, a verdade era que nunca precisaria mentir, pois jamais as veria novamente.

— Mas por que mentiu?

— Porque elas são insuportáveis e eu não sou obrigada a aturá-las — explicou.

— Achei que fossem suas amigas. — O Williams mais velho franziu a sobrancelha.

— Eu também, parece que nós dois nos enganamos. — Ela lançou-lhe uma piscadela, pegando uma farta garfada da sua comida.

E o assunto morreu.

— Está guardando o troco das compras? — o pai questionou, após alguns segundos de silêncio.

Pandora quase engasgou, mas fingiu que nada aconteceu.

— Sim. — Riu, nervosa. — Mas devo dizer que não é muito, a inflação está pegando bem pesado ultimamente.

— Já está pensando com o que vai gastar esse dinheiro extra?

— Não. — Abriu um sorriso trêmulo. — Acho que só vou esperar até algo aparecer.

— Só não gaste com alguma coisa besta — Gabriel pediu.

— Vou tentar. — Engoliu em seco. — Pai?

— Sim? — Ele ergueu a sobrancelha, incentivando-a a prosseguir.

A menina hesitou.

— Você sente falta dos seus pais? — indagou, essa era uma dúvida que tinha há um tempo, mas intensificou-se conforme refletia sobre suas relações familiares.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora