48. take me to church

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— michael!

Michael poderia estar ficando louco, talvez até obcecado, mas poderia jurar ter visto, mesmo que por menos de um segundo, a imensidão azulada dos olhos de Pandora encarando-o pelo espelho do quarto enquanto jogava Uno com Jake e Kendrick. Nenhum dos outros dois meninos pareceu notar algo de diferente e, mesmo depois de muito analisar o espelho, o Langdon constou que, de fato, não havia nada ali.

— Cansei de perder, 'to fora! — Kendrick atirou suas cartas sobre o monte, cruzando os braços e encostando o corpo ao pé da cama. — Vocês são dois trapaceiros.

Jake mostrou-lhe o dedo do meio e Michael se contentou em rir com escárnio.

— Não é nossa culpa se não sabe jogar — o Dyer rebateu. Kendrick botou a língua para fora.

Aquela breve discussão foi como um murro no seu tórax. Odiava como qualquer coisa poderia fazê-lo sentir saudades de Pandora, aquela... aquela... Ótimo, agora sequer conseguia insultá-la em sua própria cabeça.

— Crianças, crianças, vamos parar de brigar — pediu aos dois, antes que começassem a rolar no chão aos socos, como fizeram certa vez. — Vocês dois são péssimos, aceitem.

Dessa vez, ambos lhe lançaram um gesto impróprio, fazendo careta. O loiro teve de se segurar para não rir — era o mais novo deles e, mesmo assim, conseguia ser o mais maduro.

— Alguém já disse que você é um idiota? — perguntou Jake.

— Uma pessoa — Desviou o olhar. Quando estavam juntos, não havia um dia em que Pandora não o chamasse assim. — Muitas vezes.

— E ainda viveu para contar história? — O Harris ergueu a sobrancelha. — Nem conheço, mas já é meu novo ídolo.

Michael revirou os olhos. Tinha certeza de que a Williams acharia se juntar a Kendrick e Jake para irritá-lo um passatempo divertido — isso, claro, apenas depois de se desculpar pela forma com a qual o tratou, dias antes.

— Ih, Michael parece que vai matar alguém — o Dyer comentou, fitando o Anticristo de sobrancelha franzida. — Mata o Kendrick, por favor, eu não quero morrer pobre!

— E você acha que eu quero isso, seu jumento? — o outro mago retorquiu, fazendo uma careta. Em seguida, virou-se na direção do Langdon. — Você parece que vai explodir. 'Ta tudo bem?

Não, não estava. Nada estava bem, porque ele fora um completo idiota; porque Pandora o abandonava constantemente; porque não sabia se deveria persistir com aquela ilusão; porque tudo o que queria fazer era se ajoelhar diante a Angemonium e implorar pelo seu perdão, por mais que ela também o tivesse machucado, por mais que não o amasse como ele a amava.

— Isso não importa. — Sua voz saiu mais fria que desejava. Em conseguinte, se pôs de pé e deixou o baralho sobre o chão. — Tenham um bom jogo.

Os dois magos trocaram olhares, enquanto Michael se dirigia em direção à porta. Estava girando a maçaneta quando Jake indagou:

— Está mal por causa da... — Engoliu em seco, talvez com medo de dizer a palavra errada e irritá-lo ainda mais. — Visita de três dias atrás?

O maxilar do loiro se trincou com a menção à jovem.

— Pandora não é da sua conta. — Abriu a porta. — Não é da conta de ninguém.

E deixou-os para trás, sem mais uma palavra. Ele não tinha nada contra os colegas, não queria ter sido tão grosso com eles. O problema era a forma como aquele assunto ainda era sensível demais para ser discutido em voz alta.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora