94. allies once, allies twice

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— pandora!

Na tarde do dia seguinte ao encontro desastroso com Papa Legba, Lilith aguardava Pandora do lado de fora da residência Williams. A híbrida espantara-se ao ver que a mãe estava escorada na BMW vermelha que ela ganhara de aniversário — cuja existência acabara sendo varrida de sua memória devido à urgência dos acontecimentos recentes.

Estava claro como o dia no rosto contorcido em desgosto de Michael que ele não se sentia confortável em implorar às suas antigas inimigas mortais por ajuda, especialmente agora que lembrava-se de quando e como tirara suas vidas. Percebendo isso, a Angemonium insistira que ele ficasse para trás; já havia sido um ato extremamente altruísta da parte dele aceitar a possibilidade de elas se tornarem suas aliadas, ela não desejava forçar aquela barra obrigando-o a encontrar-se com o clã pessoalmente.

O Anticristo parecera extremamente aliviado quando ela pedira que não fosse, mas logo preocupara-se em como Pandora lidaria com Lilith sozinha. A jovem, que também não tinha ideia de como aturaria o demônio, reconfortara-o garantindo que estaria ocupada demais lidando com as bruxas para lembrar-se dela. Michael, então, decidira que, enquanto a híbrida estivesse conquistando as novas aliadas, ele iria até Sra. Mead pela primeira vez desde que ganhara suas memórias de volta, em busca do carinho que jurava que ela ainda devia ter por ele.

Pandora não tinha dúvidas de que ele se decepcionaria, mas aquela era uma descoberta que, infelizmente, o rapaz deveria fazer sozinho.

Uma vez que ele tomara seu próprio rumo, a Williams se recusara a permitir a entrada da mãe na casa envolta por feitiços que, apesar de ter ajudado a lançar, não podia penetrar. Desta forma, ela e uma Lilith muito emburrada pela "perda de tempo desnecessária e fútil" dirigiram de volta para o apartamento no centro da cidade.

O sol já se punha ao horizonte quando chegaram à cobertura.

— Se eu soubesse que fosse agir como uma criança birrenta e me proibir de entrar na casa, eu não teria percorrido todo o caminho até lá — o demônio resmungava, conforme guiava a filha pelo imóvel luxuoso e enorme.

— Ninguém pediu que fosse. — Pandora deu de ombros, apática.

— Eu avisei que iria.

E avisara mesmo, pelo celular de Michael. Ainda assim, a Angemonium não se incomodara em explicar que não permitiria sua entrada. Não era responsável por dar informações que otimizariam o tempo da mãe, da mesma forma que Lilith não se sentira responsável por revelar a verdade sobre a volta no tempo a ela.

Era uma atitude infantil, vingativa e mesquinha, mas essas pequenas reparações eram o que impediam Pandora de sucumbir à fúria e tentar atear fogo à progenitora — de novo.

No fim do corredor do primeiro andar, havia uma sala trancada. Sem precisar de chave alguma, o demônio fez com que a maçaneta girasse.

A Angemonium precisou reprimir uma exclamação quando Lilith acendeu a luz. As quatro paredes da sala estavam cobertas por espelhos, e até a parte interna da porta era revestida com material espelhado. Seu reflexo estendia-se infinitamente, repetindo-se quando um espelho refletia o outro — se tivesse alguma alucinação ali como costumava ter ao acordar de um pesadelo, estaria ferrada.

— Por que você precisaria disso? — Pandora sussurrou, um pouco assustada. Não desejava iniciar diálogos com a mãe, mas estava curiosa demais para ignorar a bizarrice daquilo.

— Espelhos são muito poderosos, sempre foram, principalmente quando refletem a si mesmos — a mãe explicou, tocando a superfície mais próxima. — Como acha que eu me mantenho atualizada sobre tudo que acontece na Terra?

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora