epilogue

735 46 182
                                    

— pandora!

O sol terminava de se pôr no horizonte, trazendo a escuridão que seria completa se não fossem os postes de luz automáticos que iluminavam a calçada. Pequenos piratas, super-heróis, príncipes e princesas corriam de volta para casa com balinhas e pirulitos tilintando dentro das sacolas que carregavam. Pandora por vezes sentia falta de quando era uma dessas crianças em fantasias, comemorando seu aniversário com três dias de atraso pedindo doces na vizinhança ao lado de sua única amiga da época, Robin.

Agora, ela era acompanhada por outra pessoa. Seu amante eterno, a alma que conectara à sua para sempre e todo sempre.

Apesar de ter terminantemente se recusado a vestir uma fantasia, seu sobretudo preto sobre um terno de mesma cor fazia com que Michael se encaixasse muito bem em todo aquele cenário tenebroso. Pandora, por outro lado, adorava o glamour das fantasias e apostava em uma muito bem elaborada todo ano, ainda que não tivesse nenhuma ocasião onde vesti-la. Naquela noite, escolhera um vestido vermelho e cintilante colado ao corpo, em adição às luvas roxas que subiam para além de seus cotovelos, imitando a personagem Jessica Rabbit.

Entre eles, o pequeno Jeffrey Harmon saltitava na fantasia realista do Homem de Ferro que a híbrida comprara para ele — não sem protestos de Michael, que não queria que o irmão usasse o traje do super-herói que desgostava. Os doces transbordavam de sua sacola azul, demonstrando o quão popular fora a roupa do garotinho entre os vizinhos.

— Não entendo qual a satisfação de ganhar doces de estranhos — o Anticristo reclamou, franzindo a sobrancelha para as crianças alegres. — Nós poderíamos comprar uma fábrica inteira de doces só para ele.

— Você só pensa dessa forma porque nunca foi criança — Pandora retrucou, inclinando a cabeça.

— Eu penso dessa forma porque é raciocínio lógico.

— Não sabia que raciocínio lógico era um novo termo para ranzinza — ela provocou. Ele revirou os olhos. — E podemos comprar uma fábrica de doces a qualquer momento do ano, mas a magia do Halloween não pode ser replicada em qualquer outro dia.

Antes que Michael pudesse responder, Jeffrey disparou pelos degraus da residência dos Harmon, sua turbulência fazendo algumas balinhas caírem pela rua. Enquanto ele tocava a campainha, seu irmão mais velho recuperava os doces do chão sem precisar abaixar.

Quando o último pacote voou na direção da mão dele, a porta se abriu.

— Mamãe, mamãe! — Jeffrey comemorou, erguendo a sacola. — Olha o tanto de doce que eu, o mano e a Panpan pegamos.

Vivien abriu um sorriso, pegando o filho no colo. Ela vestia uma fantasia simples de vampira, com um vestido preto e uma capa característica, além das presas.

— Nossa, que tanto! Isso aí vai durar duas semanas — ela fez uma pausa, olhando com diversão para Michael e Pandora conforme eles entravam pela porta. — Isso, se seu irmão e a Panpan não comerem tudo em um dia como no ano passado.

— Ei, nós comemos só metade — a híbrida se defendeu.

— Uhum, vocês comeram metade cada — Vivien ironizou, arrancando risadas do menino em seus braços. Em seguida, ela se aproximou de Michael e beijou sua bochecha, perdendo o ar sarcástico. — Obrigada por acompanharem ele de novo.

O Langdon não disse nada, mas Pandora conseguiu ler tudo que ele sentia. Depois de ter sido o responsável pela morte do irmão no nascimento, quando o trouxe de volta Michael passou a fazer de tudo para dar ao irmão a melhor vida que ele poderia ter, para compensar pelo que ele tirara no passado. Ninguém na família mimava o pequeno Jeffrey como seu irmão mais velho.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora