99. heavenly reunion

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— michael!

Michael acreditava que fosse se sentir aliviado quando Lilith anunciasse que ele e Pandora estavam prontos. Entretanto, a realidade se mostrara bastante diferente: assim que o último treino chegara ao fim, sua traqueia enrolara-se em um nó incomodo que o impedia de respirar propriamente e não dera menção de que se afrouxaria. O jantar fora extremamente desconfortável, aquela ansiedade pairando à volta de todos eles como uma névoa densa e invisível.

Um mês já havia se passado desde que se mudara para a mansão da praia e o Anticristo ainda não tinha ideia de como entregariam o arcanjo Michael como sacrifício a Papa Legba. Ele estava certo de que não poderia invadir o Paraíso com Pandora, mas Lilith não o treinaria também se não soubesse que ele teria algum papel naquilo.

Apesar da exaustão, o rapaz não conseguia dormir. Seus pensamentos faziam sua cabeça girar e doer, e o nó em sua garganta era suficiente para sufocá-lo.

Toda vez que tentava fechar os olhos, sua mente transbordava com pensamentos sobre Papa Legba, arcanjos e uma adaga prateada. Sobrepondo-se ao que sempre preenchia sua mente, não importava o momento: Pandora.

Quase três meses haviam se passado desde que o Anticristo encontrara seu corpo mutilado pregado cruelmente à cruz — dois meses desde que ela voltara para ele —, e ele continuava forçado a reviver aquele mesmo momento tenebroso em que soubera que ela estava morta, aquela memória atingindo-o de novo e de novo, como uma bigorna caindo sobre seu estômago. Ela estava ali, no quarto ao lado do seu, respirando o mesmo ar que ele respirava, e Michael ainda sentia pânico quando pensava no que acontecera naquela igreja.

Havia umas boas semanas desde que essa sensação pavorosa diminuíra, não passando do fantasma de um arrepio. Hoje, porém, ele encontrava-se incapaz de refrear aquele sentimento de pavor.

Pandora teria um propósito no plano que ele não poderia acompanhar. Ela se colocaria em perigo ao começar uma rebelião que nem mesmo Lúcifer fora capaz de terminar, enquanto o Anticristo faria sabe-se-lá-o-quê, impossibilitado de correr à sua ajuda caso necessário.

Do outro lado da parede, Michael sabia que a híbrida estava tendo uma noite tão conturbada quanto a dele. Conseguia pressentir a energia caótica e assustada emanada dela.

Ele sentiu um arrepio e então um puxão. Não foram necessárias palavras para que ele entendesse que ela chamava por ele.

O rapaz abriu os olhos, sendo arrancado daquela torrente esmagadora de pensamentos perturbados. Pandora precisava dele e Michael nunca a deixaria na mão.

Não de novo.

Percorreu a distância que separava seus quartos e enxergou-a através da porta que a jovem jamais fechava. Estava sentada na cama, estremecendo com soluços e abraçando as pernas contra o peito.

Ao vê-lo, seus olhos encheram-se de pânico e ela apertou as pernas com mais força. O rapaz acreditou que ela fosse pedir que ele se afastasse mais da porta, mas, para sua surpresa, ela fez um movimento com a cabeça, chamando-o para dentro.

— Tem certeza? — ele insistiu. A híbrida aquiesceu.

Um pouco incrédulo, o rapaz deu dois passos para dentro do quarto.

Pode se sentar. Os olhos dela estavam fixos na beirada da cama. Apesar de as palavras terem ecoado dela para ele, invisíveis e inaudíveis, havia relutância.

Lentamente, sem ousar fazer qualquer movimento brusco que pudesse assustá-la, Michael sentou-se na ponta da enorme cama de casal. Apesar de estarem no mesmo colchão, não havia a mínima possibilidade de se tocarem por acidente.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora