110. welcome to hell

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— michael!

— Onde é que você nos trouxe? — Lilith rosnou, as sobrancelhas franzidas, conforme vasculhava o ambiente.

Michael havia estado naquela loja de departamento duas vezes antes. Reconhecia a musiquinha animada horrível criada para torturar os residentes daquele inferno privativo, da mesma forma que reconhecia o corredor de toalhas que nunca paravam quietas nas prateleiras e a fila interminável no caixa.

— Não importa — ele retrucou, em voz baixa. Teria sido mais fácil acessar seu próprio inferno pessoal e partir dali, porém sua tortura eterna coincidentemente era a mesma que Pandora, e não seria prudente levá-la de volta ao fruto de seus piores traumas apenas para cortar caminho. Por isso, optara por começar pelo inferno de Madison Montgomery.

A Angemonium estava em silêncio ao lado deles, a expressão dura e a tensão no laço entre os dois sendo tudo que precisava para saber exatamente o que ela sentia. Aquele podia não ser o quarto ao qual ficara presa por tanto tempo, mas estar tão próxima dele e tão perto de enfrentar a criatura que a prendera lá certamente era apavorante.

Para Michael, estar no Inferno era como mergulhar em uma fonte absurda de poder. Todas as vezes em que visitara aquele lugar, fora como chegar em casa. A energia que permeava cada canto era a mesma que corria em suas veias, a mesma que o moldara e o criara para ser o que era hoje.

Porém, aquele nunca seria seu lar, não enquanto Lúcifer estivesse no poder. Enquanto aquela força ainda pertencesse a Satã, ele não ousaria nem por um segundo se orgulhar dela.

O trio se esgueirou pelas prateleiras da loja até alcançar uma saída de emergência que se materializou na parede azul-bebê apenas para eles.

— Mostre o caminho, mãe — Pandora pediu, suas primeiras palavras desde que chegaram. Com um aceno de confirmação, Lilith abriu a porta e os guiou até um corredor estreito.

O Anticristo estivera ali, sobre aquele piso preto tão lustrado que refletia seus passos como um espelho. Ao lado deles, milhares de portas se acumulavam nas paredes, trancando terrores por trás de cada maçaneta.

Lilith os liderava, andando alguns passos adiante. Pandora caminhava quase colada em Michael, mas sem de fato tocá-lo. Ele conseguia sentir o nervosismo que emanava dela e a única coisa que podia oferecê-la era sua própria coragem. O metal de suas luvas tilintava ao passo que ela batia uma unha com a outra, impaciente.

A mãe mirou a filha brevemente por trás do ombro. Ela voltou a olhar para o caminho à frente.

— Se serve de algo, Satã a teme desde o dia que você nasceu. — Sua voz ecoou pelo corredor vazio. — Não, não apenas teme... Ele caga de medo.

Michael não imaginou o pequeno sorriso que ameaçou surgir dos lábios da híbrida.

— Conte-nos mais sobre esse medo — ele pediu, notando que as palavras poderiam ter um efeito positivo sobre a jovem.

— Ele entrou em pânico quando soube da possibilidade de existir algo mais poderoso que seu Anticristo. — O demônio riu com escárnio. — Esse foi único motivo de ele ter aceitado firmar um acordo comigo, em primeiro lugar: achar que não tinha chance nenhuma contra Pandora.

O Anticristo encostou seu ombro de leve no da Angemonium, cuja expressão estava ligeiramente mais leve — mas não tanto quanto ele gostaria.

— Viu? Até o Diabo sabe que você é melhor que ele.

Ela fitou seus olhos por um momento, a conexão entre os dois vibrando em resposta. Eles não pararam de andar.

Michael estava longe de se sentir muito melhor que ela. Não conseguia parar de pensar no que seu fracasso significava. Ele não podia permitir que Pandora perdesse a liberdade que lhe custara tanto; não podia permitir que ela caísse nas mãos de Lúcifer novamente. Sua própria morte lhe importava menos que a ideia do que aconteceria com sua alma gêmea caso ele partisse.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora