05. what are you?

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— michael!

Mesmo em seu quarto, Michael ainda conseguia ouvir a voz da invasora, embora não fosse capaz de compreender o que ela dizia. Ele simplesmente não conseguia entender o que tal criatura ainda fazia ali — sim, criatura, pois Michael conhecia muitos humanos e a ela definitivamente não era um.

O garoto só queria que ela fosse embora, queria que pudesse seguir sua tarde em paz — ou algo próximo a isso —, sem ter um pesadelo ambulante lhe dizendo sobre premonições e fim do mundo. Muitas coisas já assolavam a sua mente, ter que se preocupar com mais aquilo não estava sendo uma boa experiência.

Ele pegou o cubo mágico que havia ganhado de Ben em uma tentativa de se distrair. Aquilo não era um tremendo desafio como o Harmon insistiu quando deu o brinquedo, o cérebro do Langdon parecia compreender as combinações do objeto sem nunca tê-lo estudado, era como deixar seus dedos em automático e seu inconsciente fazia o trabalho.

Michael não percebeu que cantarolava uma música até terminar de fazer a sua combinação do cubo e notar que não tinha a menor ideia de qual canção estava na sua mente, mesmo que estivesse entoando sua melodia.

Antes que pudesse resgatar a letra em sua memória, ele ouviu o som de algo pequeno e sólido rolando pelo chão de madeira e batendo contra o pé de sua cama. O menino sentou-se para ver do que se tratava; uma bolinha vermelha, o brinquedo favorito de Beauregard — o espírito de um dos filhos de Constance Langdon, ou seja, tio de Michael. O rapaz nunca chegou a vê-lo, porém se lembrava do dia em que a avó, ainda viva, contou sobre seus filhos e suas deficiências. O único não mencionado foi o pai de Michael, ela nunca falava sobre ele.

Depois do encontro atípico de Michael com sua tia Rose — a filha mais nova de Constance Langdon a morrer dentro da casa devido às complicações de sua deformidade —, o único dos quatro filhos de Constance que sequer tentava se comunicar com ele era Beau, que buscava um parceiro para sua brincadeira de rolar a bolinha vermelha, porém ele nunca aparecia em sua forma física. Michael acreditava que isso era obra de sua avó, que insistia em não aparecer para ele e, provavelmente, proíbia que seus filhos o fizessem.

— Eu não estou a fim hoje, Beau — Michael disse e rolou a bolinha de volta, deitando-se novamente.

Ele não queria magoar o outro único fantasma que não o desprezava, mas os eventos daquele dia realmente não estavam favorecendo o seu humor.

A canção retornou à sua mente e o Langdon voltou a cantarolá-la, frustrando-se por não conseguir, de forma alguma, lembrar sua letra ou origem.

— Olhe só, você até que tem bom gosto para músicas. — Ele ouviu ser dito atrás de si, era a inconfundível voz da garota do seu sonho.

— Achei que tinha dito para ir embora — falou, ainda de costas para ela.

— Engraçado, não lembro em que parte da conversa eu dei a entender que você mandava em mim — a menina debochou, fazendo com que ele se sentasse e virasse para encará-la com irritação.

— Você não deveria estar aqui.

— É uma propriedade privada, nenhum de nós deveria estar aqui. — Cruzou os braços e o encarou de volta.

— Olha, não sei se uma criatura como você consegue entender — Michael rebateu. — Esse lugar é perigoso.

— Mas você mora aqui.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora