42. the supreme and the angemonium

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— pandora!

Do momento em que se recuperou da sua transição até desovar o corpo da antiga amiga pelos túneis para despejar o lixo — que, na realidade, foram criados por James March com a intenção de mandar os corpos da maneira fácil e rápida para um lugar que ninguém nunca os acharia: o porão, no subsolo —, Pandora não parou de tremer. A garota encontrava dificuldades para acreditar que aquilo fosse real, que havia realmente... realmente tirado uma vida. Uma vida de alguém que algum dia fora próxima dela, alguém com quem compartilhava histórias — ainda que apenas a minoria delas fosse boa.

Ela observou o cadáver sangrento deslizar pelo escorregador metálico com um som horrível. Sentia-se nauseada ao pensar na família de Mackenzie, até mesmo em Esther. Agora que a ira a tinha deixado, todos os pensamentos e emoções que a levaram a cometer aquele ato horroroso simplesmente tinham ido embora.

James March, que a acompanhara até o local para alegremente auxiliá-la com seu primeiro homicídio, colocou a mão sobre o seu ombro, encarando o rastro de sangue no metal. Já passava da meia-noite do dia primeiro, o que significava que o seu encontro anual com assassinos em série já havia chegado ao fim.

— Parabéns, querida, você é uma de nós agora — congratulou-a, pressionando seu ombro com certo orgulho. — Eu sempre soube que tinha isso em você.

''Uma de nós'', sua mente ecoou. Uma assassina.

A ruiva sentiu seu estômago revirar pela milésima vez naquele dia. Sem se incomodar em dar uma resposta ao fantasma, retirou-se, tendo seu quarto em mente. Ela não só queria ficar sozinha, como precisava. Necessitava de tempo para assimilar tudo o que acontecera, para entender o que mudou dentro de si — se é que havia, de fato, algo de diferente.

Estivera tão absorta no próprio choque que o caminho até o seu quarto fora nebuloso. Quando se deu conta, já estava ajoelhada no chão de ladrilhos do banheiro, colocando suas tripas para fora. Na terceira vez, teve certeza que não restava mais no seu organismo para ser vomitado. Levantou-se, limpando o canto dos lábios com as mãos, que estavam completamente vermelhas por conta do sangue.

Assim que a jovem olhou seu reflexo no espelho, arrependeu-se. Não só suas mãos estavam sujas de sangue, como todo o seu corpo e, principalmente, seu rosto. Imediatamente, ligou o chuveiro e adentrou-o, ainda vestida; precisava tirar aquilo de si com urgência, precisava se limpar. Ela tinha se visto assim uma vez, apenas uma: o dia que tivera a visão que a mandava encontrar Michael e impedir o Apocalipse. A versão de si que vira naquele dia, porém, vestia roupas diferentes e, se ela não se enganava, estava suja de terra.

Será que aquilo significaria que ela mataria novamente? Poderia ser que, talvez, a visão que tivera não a alertava apenas sobre o Apocalipse, mas também o monstro que tinha o potencial de se tornar? As lágrimas que seguiram esse pensamento foram inevitáveis.

A Williams sentou-se no chão do banheiro, abraçada às próprias pernas. Não tinha forças para ficar em pé; não tinha forças para mais nada.

Ela estava assustada — apavorada, na verdade. Tinha perdido o controle novamente e, mais uma vez, detestava o fato de ter gostado. Ela sentia nojo; nojo de si mesma por ter gostado de tudo que fizera nos últimos sete dias. Não cansava de se culpar por se colocar em um pedestal, por sentir satisfação em estragar o dia de outras pessoas, por ter todos fazendo tudo por ela, por tomar aquilo que era dos outros com facilidade impressionante, por afogar seus sentimentos com bebidas e drogas, por entregar-se a tantas pessoas em busca de um prazer momentâneo e, o pior de todos, por deleitar-se ao matar alguém.

Sentia aversão a si mesma pelo êxtase que sentiu ao esfaquear Mackenzie, pelo alívio que lhe veio ao liberar toda aquela fúria presa em si. Pandora não apenas agradou-se ao matá-la, ela amou a sensação de ver a vida deixar a adolescente. Em algum lugar, bem fundo em sua mente distorcida, parecia fazer sentido que a Price merecesse aquele fim — embora esse pensamento fosse fortemente contestado pela minúscula parte racional do seu cérebro.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora