70. carnal symphony

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— michael!

05 de Janeiro, 2018

O Anticristo nunca imaginou que se dignaria a derramar lágrimas por conta de um livro estúpido sobre um órfão bruxo com uma cicatriz na testa, porém acabava de se provar errado conforme terminava o quinto livro da saga de Harry Potter. Ele não sabia se estava triste pela morte do seu personagem favorito, ou com raiva de Bellatrix Lestrange por tê-lo assassinado.

Michael se recusava a acreditar que Pandora o havia obrigado a ler aqueles livros mesmo tendo conhecimento sobre o que acontecia com Sirius Black. A adolescente era verdadeiramente cruel.

Ele deixou o exemplar de Ordem da Fênix sobre a mesa de cabeceira com um suspiro. Tinha avançado consideravelmente em sua leitura da saga, tendo em vista que sua única companhia agia cada vez mais distante e passava a maior parte das tardes trancada em sua suíte própria, inventando mil e uma desculpas para não ter de trocar mais de algumas palavras com Michael.

Desde então, uma sensação bastante incômoda era gerada em seu interior quando a Williams surgia em seus pensamentos, como se mãos invisíveis torcessem seu estômago e o impedissem de respirar. Era inevitável o sentimento de que havia mais uma vez arruinado suas chances de manter ao seu lado alguém que se importasse com ele; a culpa o consumia como um vírus, e o Langdon sequer tinha noção do que fizera de errado desta vez.

Com um grunhido descontente, ele impulsionou-se para fora da cama. Pensamentos depreciativos não seriam de muito auxílio naquele momento delicado, onde tudo com o que se importava era poder trazer de volta a relação que tinha com a pessoa que amava. Mesmo que sempre que fechasse os olhos ficasse remoendo a imagem de Pandora o abandonando naquele baile para ficar com os homens que ele tanto detestava, Michael se esforçava para manter em si aquela amargura, pelo bem do seu relacionamento com ela. Contanto que a jovem parasse de tratá-lo como uma bomba prestes a explodir, Michael poderia esquecer o quanto suas atitudes naquela noite o haviam machucado tão profundamente.

O Anticristo já estava na sala quando ouviu a porta de entrada se abrir. Seus músculos ficaram tensos por um instante, preparando uma defesa contra quem quer fosse o possível invasor; a magia se preparava para subir à superfície.

Ao vislumbre se uma cabeleira ruiva, ele tornou a relaxar, a magia voltando ao estado adormecido de antes. Ele observou conforme Pandora ultrapassou a porta, as feições contraídas com irritação, enquanto tentava equilibrar um tripé de madeira com uma lousa branca em um braço e uma caixa no outro.

Então aquela seria uma noite de jogos, ao que parecia. Mais um dos seus artifícios para evitar conversas profundas com ele quando estivessem no mesmo cômodo.

Ela posicionou o tripé no centro da sala, de frente para o sofá. Em seguida, deixou a caixa sobre a mesa de centro. Michael inclinou a cabeça, no intuito de ler a inscrição em vermelho sobre o objeto colorido: Imagem&Ação.

— Terminou o livro? — a Williams questionou, analisando-o com certa atenção. Ela sabia que ele tinha alcançado as páginas finais na noite anterior.

Com pesar, o rapaz assentiu. Ele não precisou dizer nada, pois logo a garota deu seguimento à sua fala:

— Dói, não dói?

Michael se obrigou a rir com escárnio, desviando o olhar com se fosse uma pergunta boba.

— É só um personagem fictício. — Mentiroso, era o que ele era.

Erguendo a sobrancelha, Pandora lhe lançou um olhar descrente, os lábios rosados se curvando em um sorriso debochado que ele conhecia bem demais.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora