— michael!
— Uno! — Michael anunciou, atirando um 5 verde sobre o monte.
Pandora, por sua vez, não teve a reação que ele esperava — uma careta acompanhada de um grunhido descontente. Ao invés disso, ela ergueu o olhar das suas cartas para ele, a sobrancelha se arqueando com diversão.
— Acho que não, Devil Jr. — Ela praticamente bateu sua carta no monte: a mais temida delas, um +4. — Uno.
O Anticristo xingou baixinho, comprando quatro cartas.
— Qual cor?
— Vermelho.
Nenhuma das suas cartas tinha essa cor.
— Droga.
Ela alegremente jogou um 7 vermelho sobre a mesa.
— Ganhei! — Não foi a comemoração de sempre, repleta de gritinhos entusiasmados, provocações infantis e gargalhadas, mas o brilho triunfante em seus olhos dizia o suficiente.
Nos últimos dois dias, Michael aprendera a aproveitar toda migalha que poderia quando se tratava da Angemonium. Seu humor era instável, e nem mesmo seus maiores cuidados eram o suficiente para impedir eventuais picos de humor. Os dois se viam duas ou três vezes ao dia no máximo, geralmente por volta das refeições: jogavam algo conforme esperavam pelos pedidos de comida, se alimentavam e então conversavam entre si até Pandora atingir o seu limite — o que não demorava muito para acontecer. Diferente da primeira vez, a híbrida começara a avisar quando o desconforto se iniciava, e não se obrigava a aguentar mais do que suportava apenas para esticar um bom momento.
No geral, era uma boa rotina. Depois de perdê-la duas vezes, o Langdon descobrira que estava disposto a aceitar toda e qualquer condição que a jovem tivesse para estar ao seu lado. Ele sabia que não suportaria uma terceira.
Mal suportara a segunda.
Pandora juntou as cartas em um monte e o bateu na mesa duas vezes, por fim guardou-o na caixa vermelha do jogo. O almoço chegaria em breve, era mesmo melhor já deixar a mesa arrumada.
— Michael — chamou, os olhos perdidos na pequena caixa que girava despreocupadamente sobre a mesa.
— Sim? — O Anticristo ergueu a sobrancelha.
Ela empurrou o objeto para o lado, levantando o olhar.
— Estou muito curiosa em relação a algo... — Inclinou a cabeça, enrolando as palavras como se estivesse com medo de dizê-las. Michael fez um movimento leve com a mão, encorajando-a a expressar o que queria. — Tipo, na primeira vez que tudo aconteceu, você viveu três anos a mais que eu... como foi?
Michael descobrira recentemente que Pandora havia passado de 2018 a 2021 enterrada em um pântano com propriedades de cura, motivo para ela, e as bruxas que ele não conseguia deixar de odiar, terem sobrevivido ao ataque nuclear. Fizera mais sentido do que esperara: jamais sentira sua morte, mas também não conseguia sentir sua energia em lugar nenhum, pois estava adormecida por anos.
— Os dois primeiros anos foram fáceis — ele admitiu, apoiando o cotovelo sobre a mesa. — Depois que abri mão da minha humanidade, assumi integralmente meu papel como Anticristo: eu usava todo pouco tempo livre que tinha para planejar e ansiar pelo Apocalipse, não dava espaço para pensar em outras coisas, como... — Suspirou, irritado com as palavras que ruminavam em seu interior; o sentimento amargo. Não queria externá-las, mas havia concordado em ter uma relação transparente com Pandora. — Como a sua traição.
Ela assentiu, pesarosa. Compreendendo-o, sem enraivecer-se pelo que dissera.
— Desculpe — pediu em um sussurro.
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ME AND THE DEVIL ➸ michael langdon
FanficPandora Williams sempre odiou sua vida. Abandonada pela mãe com o pai misterioso que nunca fala sobre seu passado, ela jamais entendeu o que significa pertencer; se encaixar. Jamais teve um propósito. Em um dia que deveria ser tão normal quanto todo...