75. mirror mirror on the wall...

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— michael!

07 de Fevereiro, 2018

De repente, era como se Michael estivesse andando sobre um precipício em uma ponte de vidro que rachava a cada passo seu, sem borda alguma a vista. Uma angústia sem fim, uma eterna dor em seu peito.

Cinco dias antes, Pandora o havia confrontado acerca do Apocalipse. E eles tiveram o que poderia chamar de sua primeira briga. Não houve uma conclusão de fato, ou um consenso, eles simplesmente continuaram com suas vidas aceitando que, em algum ponto, aquela divergência os separaria. O Langdon não podia dizer que tudo estava normal. Eles ainda dormiam juntos, aquela conexão imensurável e intangível entre eles ainda existia; porém era como se aquele assunto inacabado ainda pairasse entre eles como um fantasma, sugando todas as suas energias, e sempre que Pandora o olhava, era como se estivesse em luto por ele, pela relação deles.

Talvez Michael escondesse melhor sua frustração, talvez ele demonstrasse tanto quanto a namorada, porém ela decidia ignorá-lo da mesma forma que ele o fazia. Verdade fosse dita, o rapaz não tinha ideia do que fazer.

A Williams dissera que preferia morrer a governar ao lado dele, que escolheria o mesmo fim que o resto do mundo. O Anticristo sentia um pânico crescente sempre que se lembrava disso, porque ele não se perdoaria caso fosse o causador de sua morte, mesmo que a decisão tenha sido dela. Seu amor, aquele maldito sentimento que era uma fraqueza ainda maior que sua ignorância, entrava na defensiva sempre que um cenário em que Pandora se machucava invadia sua mente. Ele preferia a morte àquilo.

Michael havia considerado a possibilidade de trancafiá-la em segurança quando a hora do Apocalipse chegasse, impedindo sua morte. No entanto, valeria mesmo a pena forçá-la a viver uma vida que não escolhera, apenas para ser eternamente odiado por uma Pandora infeliz?  Roubar sua liberdade simplesmente para não sofrer com o peso na consciência de tê-la matado?

Valeria a pena seguir um destino que fora forçado sobre ele antes mesmo de nascer, e perder a única coisa que fazia sua existência ter sentido no processo?

Sua vida inteira, Michael esteve sendo preparado para aquele momento, profetizado para um futuro muito maior que ele mesmo. Entretanto, lá estava, incerto sobre o que fazer a seguir; sobre o que sacrificar.

Quem sabe, Pandora poderia estar certa: um mundo feito na imagem do se pai poderia não ser a melhor opção. Talvez, ele não tivesse que matar as pessoas para salvá-las.

Talvez... ele tivesse mesmo sido manipulado por todos para acreditar naquilo, inclusive por Miriam Mead.

O rapaz nunca teve o luxo de fazer escolha alguma em sua vida, portanto toda aquela liberdade era, de certa forma, estranha para ele. Era um poder que jamais havia tido em suas mãos.

Michael não queria discutir isso com Pandora, não poderia. Dizer que estava, ainda que remotamente, considerando abandonar todo o futuro que lhe fora escrito por conta dela, poderia criar uma certa expectativa na jovem, uma que ele não estaria disposto a quebrar depois.

Mas a ponte logo se partiria, e ele precisava seguir em frente.

Pandora estava trancada em seu quarto havia pouco mais de uma hora. De vez em quando, a menina fazia isso, geralmente usando desse momento para pintar as unhas ou fazer as sobrancelhas. Eles dormiam juntos, comiam juntos, assistiam a filmes juntos e às vezes até tomavam banho juntos, fazia sentido ela que precisasse do seu próprio tempo, nem que fosse pelo menos alguns minutos.

A questão era: Michael tinha terminado de ler a última página de Relíquias da Morte, e não conseguia segurar a vontade de comentar com ela. Afinal, a Williams o havia obrigado a ler aquela saga inteira, e ele esperava que, comentando sobre o final do livro, eles pudessem ter um instante juntos em que o fantasma daquela discussão não os sufocasse.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora