— michael!
Três semanas já haviam se passado desde que Michael tinha participado da Missa Negra em que jurara lealdade ao pai e ele honestamente não sentia diferença alguma — em si, ou na forma de enxergar o mundo. O garoto ainda era apenas uma mistura fervilhante de ódio e tristeza.
Ele sentia falta da energia sombria e familiar da Murder House, e também sentia falta da breve ilusão que vivera ao lado dos Harmon. Contudo, agora não ficava dias inteiros preso no quarto, remoendo a solidão e a amargura; ele trabalhava para algo, se esforçava para algo.
Passara a morar com Miriam Mead, a Cardeal de Anton LaVey que se oferecera para ensiná-lo os mandamentos de Satã e prepará-lo para o que estava por vir. Ela o fazia consumir todo tipo de conteúdo que havia por aí sobre ser o Anticristo, e então testava seu conhecimento, para garantir que as informações estivessem bem frescas em sua mente a todo momento.
Fora isso, ela também o ensinava responsabilidades, como arrumar o próprio quarto e lavar a louça, dizendo que um dia o mundo todo estaria aos seus pés e que teria serviçais para fazer aquilo por ele, mas enquanto isso não acontecesse, Michael deveria fazê-lo ele mesmo. Aquilo quase o lembrava das vezes em que Pandora o obrigava a lavar seu prato, alegando já ser responsável pelas contas do mercado — quase, pois o rapaz tentava bloquear toda e qualquer memória que o fizesse sucumbir ao luto, mesmo que na grande maioria das vezes ele não obtivesse tanto sucesso.
Era sempre difícil se recordar de Pandora, porque ele não a teria de volta. Nunca mais seria forçado a lavar as louças por ela, ou receberia beliscões no braço por falar mal de Tony Stark; ele nunca mais sentiria seu corpo confortando o dele em uma noite fria, ou a sua mão passeando despreocupadamente pelos seus cabelos.
Ela jamais saberia o quão arrependido Michael estava por ter escolhido o poder ao invés dela, e ele jamais teria a chance de se desculpar.
Dedos estalaram diante dos seus olhos, fazendo-o piscar em surpresa ao ser despertado dos pensamentos penosos.
— Foco, garoto, o mundo não vai se destruir sozinho — Mead resmungou, mirando-o em desaprovação. Até segundos antes, ela fazia perguntas sobre o livro sagrado de Satã, mas o rapaz estivera distraído demais consigo mesmo para prestar atenção. — Está remoendo o luto de novo? Achei que já tínhamos conversado sobre isso.
Michael contara a ela sobre a morte de Pandora semanas antes, uma vez que estava deixando seus objetivos pessoais claros. A satanista dissera que a tristeza não o levaria a lugar algum, apenas a raiva, e que ele, ao invés de se martirizar por isso, deveria canalizar sua fúria no seu objetivo como Anticristo. Ela ainda explicara que a morte da jovem o tornaria mais forte e determinado, e que, agora que Pandora se fora, ele tinha uma fraqueza a menos a ser explorada.
Embora a mulher estivesse certa, o garoto não estava pronto para encarar a morte de sua amada como uma dádiva mascarada de infortúnio.
— Ainda estou aprendendo a controlar esses pensamentos — disse, erguendo o olhar das próprias mãos, onde girava despreocupadamente o chaveiro que Pandora o havia dado, o qual ele não deixava de lado desde quase tê-lo perdido para Tate. — Não é tão fácil quanto é controlar meu corpo, mas estou tentando.
— É, você realmente pareceu mais atento essa semana... — Mead admitiu, coçando o queixo ao avaliá-lo. — Mas ainda não é o bastante. Cada segundo é precioso, e você os está desperdiçando com algo que não tem como corrigir.
— Eu sei, me desculpe. — O rapaz não estava acostumado a se desculpar com ninguém, mas, querendo ou não, a satanista era um tipo de tutora para ele, portanto deveria seguir seus conselhos e respeitá-la como tal. Afinal, se Satã a colocara no seu caminho, era porque ela sabia o que fazia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ME AND THE DEVIL ➸ michael langdon
FanfictionPandora Williams sempre odiou sua vida. Abandonada pela mãe com o pai misterioso que nunca fala sobre seu passado, ela jamais entendeu o que significa pertencer; se encaixar. Jamais teve um propósito. Em um dia que deveria ser tão normal quanto todo...