83. the cursed cycle

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— michael!

A miniatura do Darth Vader repousava no chão, inerte e intocada pelas chamas que já haviam se apagado. Michael estava diante do chaveiro, encolhido de joelhos e estremecendo conforme as lágrimas escorriam pelas bochechas.

Ainda era difícil assimilar aquele poder que transbordava pelos seus dedos, responsável pela erradicação completa da alma de Tate. A carga era maior do que ele imaginara, e a sensação, mil vezes mais assustadora. Não sobrara sequer uma sombra daquela energia espiritual... como se jamais tivesse existido.

O Langdon queria poder dizer que estava arrependido por ter destruído o pai, mas acreditava que o homem já havia causado mal o suficiente para sua curta existência. Agora, morto de uma maneira que ia além da morte, ele nunca mais machucaria alguém.

O estômago do garoto afundou quando um pensamento involuntário e tenebroso invadiu sua mente. Ele não queria pensar, não queria aceitar, que o destino de Pandora, quem sacrificara a própria vida em uma missão sem fundamento para salvar Michael e o resto do mundo, fora o mesmo que o de Tate, que era o maior monstro que o rapaz tinha conhecido em vida.

O segundo maior, na realidade, porque ninguém jamais seria monstro pior que aquele que fora responsável por pregar o cadáver de sua amada à cruz. O Anticristo não acreditava que nada jamais o causaria tanto pavor quanto a imagem de Pandora sobre aquele altar, os braços abertos e os seios rasgados, como se quem quer que a matara tivesse sentido um prazer doentio ao fazê-lo.

Talvez o rapaz nunca tivesse adivinhado que anjos poderiam ser ainda mais demoníacos que os próprios demônios.

Mas agora ela se fora, e Tate também. E Michael não sabia o que fazer a seguir.

— Me ajude, pai — apelou, a voz sendo como um fiapo áspero devido aos soluços e ao choque. — Por favor.

Não houve resposta. Então ele apenas chorou.

Passos ecoaram pela madeira e logo havia uma figura ao seu lado, a energia conturbada vibrando com a perda, a angústia.

— O que você fez com ele? — Era a primeira vez que ouvia a voz de Constance Langdon desde que ela cometera suicídio para fugir dele. Não esperava que ela fosse lhe aparecer depois de tantos meses, especialmente não agora que ele havia destruído a alma do seu filho. Michael não a respondeu, consumido pelo choque, então a mulher o agarrou pela blusa, balançando-o com força. — O que você fez com Tate, seu monstrinho?!

O Anticristo apenas permitiu que a mulher despejasse sua raiva sobre ele. Ela o balançava e arranhava e batia, urrando questionamentos sobre o paradeiro do seu filho conforme chorava lágrimas de desespero e ódio.

O rapaz quase sentiu culpa pelo que havia feito, quase deixou que uma pontinha de remorso surgisse, porque o luto da avó o lembrava muito do seu próprio luto, assim como o jeito que a raiva e a tristeza se uniam para consumi-lo. Ele se manteve forte, no entanto, uma vez que não sentia empatia alguma pelos sentimentos de Constance depois de ela tê-lo jogado fora como um pedaço de lixo, e sentia muito menos empatia por Tate, quem havia destruído a vida de sua família e desrespeitado a memória da única pessoa que amara Michael quando ainda viva.

Os cotovelos do Langdon atingiram o chão de madeira com um baque surdo quando a avó o empurrou. Ele sentiu a dor reverberar pelos ossos, a sensação despertando sua mente para a realidade em volta. A dor não era nada comparada ao caos dentro dele.

— Ele pediu por isso — resmungou em sua própria defesa, tão baixo que não sabia se a avó o escutaria.

A palma aberta da mão de Constance acertando sua bochecha fora confirmação de que o ouvira. Seu sangue esquentou onde o tapa o marcara, mas ele não fez menção alguma de reagir: não sabia sequer o que estava sentindo, quem dirá o que faria sobre isso.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora