— pandora!
Era incomum sentir qualquer tipo de odor que não fosse o de sangue.
A mansão cheirava a jasmins recém colhidas, provavelmente devido a algum tipo de difusor de aromas artificial. O olfato de Pandora parecia uma festa, sendo um alívio poder inalar algo além daquele cheiro sobrepujante metálico.
O branco era estranhamente predominante para a casa de um demônio, dominando piso, paredes e móveis. Tudo era perfeitamente simétrico e criado a partir de formas geométricas, repleto de linhas retas e quinas pontudas. Sempre que olhava para o chão de porcelanato branco, não conseguia ignorar os vislumbres de sangue manchando seu caminho conforme andava. Não havia nada ali, ela sabia que não. O chão estava tão limpo e encerado que ela poderia ver o próprio reflexo caso se esforçasse.
O piso não estava sujo com o sangue de Michael. Ela podia ainda ser uma assassina, mas a vida dele ela não havia tirado.
E nunca tiraria.
Tentando ignorar as pegadinhas que o chão brilhante pregava em sua visão, ergueu o olhar dos pés para a enorme janela que cobria a parede à esquerda. O reflexo da lua tremulava sobre as ondas escuras, a única iluminação naquele mar sombrio que se estendia ao longe, confundindo-se com o céu noturno no horizonte.
O oceano a lembrava de Michael, e daquela vida perfeita que vivera com ele antes que tudo fosse aos ares. Os melhores meses de sua vida, esquecidos em meio a uma realidade destruída. Ela desejava estar de volta naquele resort, aproveitando aquela paz ilusória para sempre.
Sem Apocalipse, sem viagens no tempo, sem bruxas, sem anjos, sem demônios... apenas ela, Michael e o mar. O amor deles sendo a única coisa com a qual precisasse se preocupar.
Mas aquilo não seria possível, não quando Pandora sentia um pavor crescente ao se imaginar perto dele, não quando temia tocá-lo como jamais temera algo na vida inteira. Lágrimas queimaram em seus olhos, porém ela apertou o corrimão com força, subindo a escadaria de vidro que a levava do subsolo ao primeiro andar da casa. Suas pernas pareciam cada vez mais perto de vacilar.
A escada deu para uma sala ampla, com três sofás de cores bem claras e cristaleiras com vasos que pareciam custar o suficiente para alimentar uma família de três por um mês. A Angemonium não se demorou lá, passando para uma segunda sala: esta possuía uma enorme porta de vidro que dava para a área de lazer, onde ela supôs que a mãe fizesse suas festas. Antes, não entendia o porquê de alguém possuir um imóvel tão grande, porém agradecia à mania de grandeza de Lilith, pois a casa tinha espaço o suficiente para que pudesse se enfurnar no quarto mais distante e ignorar completamente a presença do demônio.
Ela subiu outra uma escada, metade do tamanho da primeira, passando por mais uma sala, que por sua vez possuía uma sacada luxuosa, dotada de uma lareira quadrada e confortáveis poltronas circulares com almofadas azul-marinho. Encontrou-se ansiosa para saber como seria a vista da varanda de manhã, quando o mar não fosse apenas um manto de escuridão sobre o mundo.
Finalmente, alcançou a porta do quarto que Lilith definiu como sendo o seu. A híbrida adentrou o cômodo, seguida pela mãe. A ideia de estar entre quatro paredes novamente a assustou, sua pulsação retornando a acelerar.
— Você não me verá se não quiser, não precisará falar comido e nem me ouvir — a mulher começou a explicar. A mente de Pandora trabalhou para prestar atenção em suas palavras, e não no terror de estar em um quarto mais uma vez. — Durante as refeições, pedirei que um dos diaristas deixe a comida na porta e apenas bata. Não terá que interagir com ninguém que não deseje. Há alguns moletons no armário.
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ME AND THE DEVIL ➸ michael langdon
FanfictionPandora Williams sempre odiou sua vida. Abandonada pela mãe com o pai misterioso que nunca fala sobre seu passado, ela jamais entendeu o que significa pertencer; se encaixar. Jamais teve um propósito. Em um dia que deveria ser tão normal quanto todo...