68. drunk in love

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— pandora!

Bebidas alcóolicas tinham um gosto horrível. Pandora não conseguia entender como alguém poderia ter coragem de ingerir aquilo socialmente.

Ela tentava fazer cada gole escondido em cada bebida oferecida pelos garçons da maneira mais rápida possível, uma vez que era uma tortura deixar a bebida em sua boca tempo suficiente para o gosto ficar preso à sua língua. Em seguida, colocava para dentro qualquer pedaço de comida que pudesse encontrar diante si na gigantesca e bem servida mesa, torcendo para que os temperos fossem o suficiente para livrá-la daquele gosto. Queria poder ficar bêbada sem ter que ingerir aquele líquido asqueroso.

No entanto, mesmo com todos os seus esforços, nem mesmo seu drinque parecia suficiente para fazê-la esquecer a sensação que os lábios de Michael deixaram nos seus, ou o fantasma do toque de sua mão em suas costas, que ainda parecia queimá-la como fogo.

Ela balançou a cabeça, no intuito de afastar tais sentimentos, tão perigosos quanto impuros. Detestava aquilo! Por que não podia simplesmente se apaixonar por alguém que não fosse o Anticristo? Alguém que não estivesse predestinada a matar? Era revoltante e desgastante.

O rapaz encontrava-se ao seu lado e, droga, como era irresistível. Se Pandora não estivesse em uma missão, ela o agarraria bem ali, sem se importar com a plateia que os assistiria. Entretanto, sua lealdade já estava prometida às bruxas, e transar com o Anticristo não estava nos planos.

Portanto, ela bebeu e bebeu e bebeu.

A híbrida não sabia se sequer podia ficar bêbada — nunca havia tentado, afinal —, porém não deixaria de entornar o uísque que lhe fora servido. Não estava em busca de passos errantes ou uma voz enrolada ridícula; Pandora estava em busca da paz. Tudo o que desejava era poder desligar, pelo menos por um instante, seus pensamentos.

Ela só queria não precisar se importar, por um maldito segundo que fosse.

Michael, que jantava ao seu lado e casualmente respondia alguma pergunta feita por um de seus seguidores, mirou-a com preocupação.

— Está mais quieta que o comum — observou, abaixando o garfo. — Há algo errado?

Claro que sim! Pandora estava apaixonada por ele.

— Não. — Ela soltou uma risada rouca. O primeiro sinal de sua possível embriaguez. — Só não tem o que falar.

Havia muito o que falar, na realidade: o beijo, seus sentimentos, o sabor do filé mignon... porém ela não conseguia. Todos os seus pensamentos giravam em torno dos seus lábios, e o que poderia fazer com eles. Começar uma conversa com Michael e não acabar voltando ao assunto parecia uma tarefa impossível.

Ela encheu a boca de carne. Se estivesse mastigando algo, ele não estranharia caso ela não o respondesse.

— Se eu fosse você, guardaria espaço para a sobremesa — o Anticristo sugeriu, indicando a quantidade de comida que ela ingeria.

A jovem queria retrucar que tinha espaço o suficiente dentro de si. Todavia, com a boca cheia, tudo que pôde fazer foi revirar os olhos.

Logo, não havia nada em seu prato. As sobremesas começaram a chegar, e Pandora não tardou em atacar seu mousse de limão. Era mais fácil colocar tudo para dentro a colocar para fora. E menos desastroso também.

Michael parecia bastante entretido com a torta de chocolate — sempre chocolate —, talvez até mais do que esteve com a sua janta. Ela gostava de vê-lo animado, ainda que fosse com algo tão fútil quanto sobremesa. Aquecia algo em seu interior, acalmando sua alma tão revolta.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora