30. burn the fucking garden down

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— pandora!

— Conversar sobre o que? — Pandora inquiriu, ainda na defensiva. — Os dezesseis anos que passei sem uma mãe? — Ergueu a sobrancelha, desafiando-a a responder. — Qual a desculpa esfarrapada para a sua ausência, Lilith? Trabalho demais no Inferno?

O olhar do demônio sequer oscilou frente às indagações. Lilith não parecia ser do tipo que se abalava com facilidade.

— Mesmo que eu tentasse, seu pai nunca me deixaria vê-la — revelou, balançando seus cabelos loiros. — Ordens diretas de Michael, se não me engano.

— "Mesmo que tentasse" — a Williams repetiu, umedecendo os lábios. — Então, nunca tentou.

— Seria ineficaz. — Deu de ombros. — Eu te observava a distância, porém, quando tinha a oportunidade. — A mulher passou as mãos pelas madeixas ruivas da filha. — Tão diferente das outras crianças. Sempre tentando se encaixar com as abelhas operárias, sem saber que era a abelha rainha.

Não confie nela, a voz na sua cabeça disse.

Não confio, Pandora afastou a mão de Lilith, dando um passo para trás.

— Por que agora? — questionou, encarando-a. — Depois de tanto tempo, por que hoje?

— Estive esperando uma brecha — a mais velha explicou. — Sem o careta do seu pai, sem o Anticristinho que você gosta tanto. Só eu e você.

— Michael — a Williams corrigiu. — O nome dele é Michael. E, que eu me lembre, aquele psicótico do seu marido, Lúcifer, fez com que ele fosse preso por um crime que não cometeu!

Lilith revirou os olhos, apoiando-se no balcão.

— Em primeiro lugar, Lúcifer não é meu marido. Nós nos relacionamos eventualmente, sim, mas casamento é uma construção social. Em segundo lugar, eu não sou responsável pelas coisas que ele faz.

Não duvido que estejam juntos nessa, a voz em sua mente falou novamente, deixando-a paranóica. Lilith é maligna, deve se manter longe dela. Mande-a embora.

— Você não manda em mim — sussurrou, tentando afastar a voz que tanto atrapalhava seus pensamentos.

— Perdão? — Lilith franziu a sobrancelha, aproximando-se. — Com quem está falando?

Pandora torceu o nariz. Não confiava na mulher, mas algo nela parecia obrigá-la a falar a verdade, como se seus olhos verdes pudessem enxergar através da sua alma.

— Tem uma voz — contou pausadamente, apontando para a sua cabeça. — A escuto na minha mente de vez em quando, atrapalhando a minha vida.

Lilith passou a língua pelos dentes, cerrando os punhos e desviando o olhar. Parecia, de fato, furiosa.

— Aquele filho de uma puta! — exclamou, batendo o pé no chão.

— Você sabe quem é? — A menina ergueu a sobrancelha, curiosa.

— É óbvio que sei — a loira respondeu, encarando-a como se fosse uma pergunta estúpida. — Michael, o original. Deixe-me adivinhar, ele estava tentando te virar contra o seu Michael, certo?

Pandora engoliu em seco, afirmando com a cabeça.

— E, agora, contra você.

O demônio revirou os olhos andando em volta do balcão conforme pensava. Não parecia nem um pouco contente com a nova informação.

— É claro que você faria isso, seu descarado — murmurou, coçando o queixo, pensativa. Em seguida, ergueu a cabeça, tornando a fitar Pandora. — Já que ele não consegue manipular as suas ações e afetar o seu livre arbítrio como demônios fazem, a única coisa que resta é atormentar sua cabeça; deixar você louquinha, até fazer exatamente o que ele quer que faça.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora