CAPÍTULO 10

3.8K 400 202
                                    

Gwyn estava deitada olhando para o teto, cantarolando uma de suas músicas favoritas, fazia um tempo que estava daquele jeito, inquieta. Tinha acordado e simplesmente não conseguia voltar a dormir.

Não estava tendo uma daquelas crises, não tinha tido um pesadelo, mas... Simplesmente não conseguia voltar para seu sono. Ela tinha tentado ler, mas não tinha conseguido se concentrar. Mesmo a melodia que gostava tanto parecia errada.

A jovem sacerdotisa ergueu a mão para o pingente do colar que estava embaixo da camisola — por puro hábito — mas o movimento fez com que sua pulseira escorregasse um pouco, deixando a mostra a tatuagem fina e intricada de traços negros.

Ela não conseguiu conter o sorriso ao vê-la, na verdade, tinha passado quase o dia todo olhando discretamente para aquilo, se perguntando se iria sumir e admitia que tinha ficado feliz ao perceber que não. A ruiva não tinha se dado conta que ao negar a adaga de Az tinha deixado a aposta pendente, mas não importava porque tinha gostado da tatuagem e não queria se livrar dela, além do mais era tão fininha e discreta que com a sua pulseira ali, outras pessoas não viriam.

Ela recolocou a pulseira no lugar, cobrindo os arabescos escuros e desviou a atenção para a janela. Pela posição das estrelas deveria ser quase uma da manhã, mas sabia que não adiantaria tentar dormir, então ficou lá, observando o céu, buscando as constelações que podia ver achar naquela posição, talvez assim, pudesse acabar pegando no sono de novo, fazer aquilo era uma das coisas que sempre a tinham acalmado.

Mas, mesmo um tempo depois, ainda estava totalmente desperta e inquieta. E, sim, poderia passar horas observando as estrelas e até que a janela encantada oferecia uma boa visão, mas não era a mesma coisa que estar ao ar livre e já tinha encontrado todas que havia naquela direção, que eram apenas duas.

Por isso, saltou da cama e saiu do quarto, com o intuito de ir para uma das varandas da Casa do Vento, onde sabia que poderia ter uma visão melhor. Os corredores da biblioteca estavam completamente vazios, mesmo assim, podia jurar que aquele lugar respirava e observava, atento ao mesmo tempo que sonolento, como um gato preguiçoso deitado num canto. A ruiva os atravessou depressa e seguiu para a escada que tinha ligação com a casa.

Durante o tempo, mesmo depois de ter subido as escadas e deixado o pensamento de a biblioteca parecer ter uma presença viva, aquela coisa que estava sentindo antes a incomodou, um leve aperto no peito que não passava, uma inquietação constante. E ela não fazia a mínima ideia do que era.

A sacerdotisa chegou no andar da Casa e o objetivo era ir até uma das inúmeras varandas, mas antes que se desse conta pegou as escadas que davam no ringue de treinamento e tinha chegado até a metade dela quando o som de punhos atingindo a madeira chegou aos seus ouvidos. Era Az. Ela sabia que era. Por algum motivo, saber disso fez com que subisse as escadas restantes mais rápido.

E lá estava ele. Distribuindo socos e chutes com aquela precisão perfeita. Tão concentrado que nem a tinha notado. Mas havia algo errado, talvez fosse a postura tensa ou a forma como ele estava fazendo aquilo, o jeito como os sifões dele brilhavam como fogo cobalto. Ou como as sombras pareciam formar um casulo protetor à volta dele. Simplesmente algo não estava certo.

Azriel socou o tronco com tanta força que a madeira estalou e por pouco não se partiu. E algo dentro dela se partiu, porque a algumas noites atrás tinha sido ela lá, colocando tudo para fora daquele mesmo jeito.

O Illyriano deu um último golpe, que terminou o trabalho e quebrou o troco em dois. O tecido que ficava ao redor dele rasgou, como se o fogo azul dentro das pedras o tivesse queimado, e um instante depois a parte de cima caiu no chão. A ruiva se encolheu ao ouvir o baque.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora