CAPÍTULO 37

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Ela se aproximou da sala a passos lentos, todos tinham ido embora há muito tempo, suas irmãs estavam em seus quartos e ela tinha se levantado para ir até o de Emes, para conversar com a irmã porque o sono não vinha. Só que desviou do caminho quando viu a sombra do Illyriano.

— Será que você nunca dorme?

A ruiva perguntou quando estava a alguns passos do sofá de encosto baixo, feito para acomodar asas, sabendo que Azriel já sabia que ela estava ali, provavelmente desde que tinha dado um passo naquela direção. Ele se virou para a encarar.

— O sujo falando do mal lavado.

Gwyn deu a volta no móvel e sentou, com as sobrancelhas erguidas.

— Nem erga as sobrancelhas desse jeito, você diz que eu nunca durmo, mas também está sempre acordada.

Ele tinha razão, mas ela disse:

— Não é bem assim.

— Ah não?

— Não. Veja bem, os dias em que fico acordada até tarde sempre têm um motivo, mas você não prega o olho nunca. E não sou eu quem estou com olheiras.

Az bufou uma risada.

— É um bom argumento, mas... — ele hesitou, preocupação fazendo aquela linha surgir entre as sobrancelhas — Qual o motivo para estar acordada hoje?

A jovem se acomodou mais no sofá e disse:

— Se está me perguntando se estou acordada porque sinto as paredes me sufocando, a resposta é: Não.

Ele fez uma leve careta, pelo jeito como tinha colocado aquilo, mas, bem, era aquilo. A forma como dizia não fazia diferença.

— Certo, então o que é?

Ela pensou um pouco e deu de ombros, apoiando a cabeça no encosto do sofá.

— Não sei, acho que foi um dia longo, importante e um pouco... estressante, então, sei lá, às vezes demoro um pouco para conseguir me desligar.

Azriel fez um gesto com a cabeça e depois o olhar ficou um pouco mais sombrio.

— Develon não tinha o direito de falar com você daquela forma. Ninguém tem.

Gwyn cedeu um sorriso meio sem graça.

— Não importa, Az.

— Claro que importa.

A ruiva se sentou direito e começou a falar, quase sem se dar conta:

— Eu nem sei se posso culpá-lo porque sou... — ela parou — Sou uma mestiça, parecendo ou não, e não faz diferença para mim. Mas é assim que a maioria vê, não vai ser a primeira ou a última vez. E não faz diferença porque... — sua voz ficou mais baixa, quando ela foi totalmente sincera — Porque não importa o que corre nas minhas veias, sei que isso não vai influenciar no que sou. Não vou fazer mal a ninguém por causa disso, então... — ela deu de ombros — que se dane o que pensam.

Azriel ficou em silêncio por um tempo, como se pudesse ver por trás das palavras.

— Você tem razão. Mesmo assim, não deveria ser assim e Develon é um desgraçado.

Ela abriu um sorrisinho.

— Isso é verdade. Eu até me sentiria linjongeada se ele tivesse sido uma grande idiota apenas comigo, mas acho que ele é assim desde que nasceu.

O encantador de sombras riu baixinho e movimentou a cabeça de uma lado para o outro, como se dissesse que ela não tinha jeito. O silêncio caiu e os dois ficaram ali, sentados no sofá, na sala meio escura, o som do vento além das janelas.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora