CAPÍTULO 23

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Ele acabou não indo diretamente para a Casa do Vento, sequer tinha ido para Velaris ao sair do chalé, apesar de ter pensado em ir para casa e de quase ter feito isso, no último segundo, desistiu e tinha ficado ali mesmo, sobrevoando as florestas de Illyria, se lembrando de que agora podia fazer aquilo por quanto tempo quisesse.

Ele ficou lá, por mais de uma hora simplesmente indo de um lugar para outro, sentindo o vento no rosto, aproveitando o tempo em que estava no ar para lembrar de que não era mais aquele menino na masmorra do pai, de que aquilo fazia séculos, mas saber daquilo não fazia muita diferença, porque as memórias ficavam e elas tinham mais poder sobre ele do que gostava de admitir e quando resolviam vir a tona não o deixavam tão facilmente, não importava o quanto lutasse contra elas.

Azriel respirou fundo e olhou para a infinidade de árvores que estavam abaixo, o som das criaturas noturnas das florestas de Illyria chegando levemente aos seus ouvidos, um arrepio percorreu sua espinha só de se lembrar daquelas coisas, esperava nunca mais ter enfrentar uma e aquilo foi o suficiente para fazer com que se lembrasse que sequer deveria está ali, que deveria estar na sua cama — mesmo que não fosse dormir e sim ficar revivendo coisas que tinha acontecido há muito tempo — mas se conhecia bem o suficiente para saber que estava chegando a um limite e que quando seu corpo cedesse ele não iria querer está sobrevoando uma daquelas florestas.

O Illyriano puxou a respiração de novo e fechou os olhos ao sentir uma pontada na cabeça, sim estava chegando ao seu limite, então entrou em suas sombras e poucos segundos depois o que era o sons baixo de criaturas se tornou o murmúrio de milhares de vozes e soar distante de instrumentos, ele nem precisou pensar antes de se dirigir as varandas da Casa do Vento, estava tarde, então ou Nestha e Cassian estavam se fudendo ou estavam fora. A casa era deles e faziam o que quisessem, mas ele desejou que fosse a segunda opção.

Ao pousar na varanda se deu um minuto para aproveitar a vista, ele nunca deixaria de admirar aquele lugar e sempre se perguntava como tinha dado a sorte de poder chamá-lo de casa, todas aquelas luzes, todas as cores, tudo aquilo eram coisas que durante os primeiros onze anos de sua vida ele não achava que realmente existisse, que aquelas coisas eram invenções de histórias que sua mãe lhe contava.

Certo, nem mesmo ele estava aguentando os próprios pensamentos, aquilo era ridículo, ficar choramingando pelos cantos por coisas que já tinham passado. Ele odiava sentir pena, principalmente de si mesmo.

Az massageou as têmporas e inspirou, se forçando a focar no aqui e no agora, a limpar sua mente, estava conseguindo fazer isso quando o som de passos apressados soaram, ele se virou na direção e no instante seguinte ela surgiu no arco da escada que dava na biblioteca, o cabelo cor de cobre brilhando a luz das lâmpadas.

Gwyn só deu mais um passo no corredor antes de se virar para ele, os fios do cabelo acompanhando o movimento e as vestes de sacerdotisa farfalhando ao fazê-lo, ela lhe ofereceu um sorriso e ele respondeu com um próprio, porque não havia como não sorrir para ela.

A sacerdotisa começou a vir em sua direção e só então Azriel se deu conta de que ela carregava uns sete volumes na mão, ao perceber sua atenção nos livros, ela disse:

— Eu disse que traria mais alguns para você.

Az não conseguiu evitar a leve risada.

— Você disse.

Gwyn sorriu e deu mais uns passos em sua direção, ela estava abrindo a boca para falar alguma coisa, mas hesitou, parando por um milésimo de segundo, o sorriso em seu rosto vacilou e ela desviou os olhos rapidamente. Az franziu o cenho, mas antes que pudesse perguntar se havia algum problema, ela voltou a postura de antes e falou, estendendo os livros em sua direção:

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora