𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠

CAPÍTULO 89

Havia sombras e azul cobalto.

O negrume sólido, com vida própria, que vinha dele. Saia dele. E levava tudo para as sombras, que estilhaçaram em fiapos de escuridão qualquer coisa que tivesse no caminho e tivesse culpa por aquele vazio no seu peito.

Onde ela está?

Ele perguntava a si mesmo, desesperadamente, a dor e o medo aumentando a cada segundo. Não conseguia senti-la, não...

Onde ela está?

As milhares de vozes na sua cabeça, ao seu redor, saindo dele, indo e voltando como ondas negras.

Onde ela está?

Sua alma perguntava, buscava incansavelmente a ligação, a luz do outro lado.

Onde ela está? Onde ela está? Onde ela está?

— GWYN! — Azriel gritou em meio às sombras e o caos, esperando que ela respondesse, esperando que a voz dela surgisse e o levasse até ela.

Mas só tinha silêncio.

Exceto...

Pelos gritos. Não dela. Mas dos soldados ao redor, dos guerreiros que a tinham machucado. Azriel sentiu o ódio cego e gelado tomar conta, transformar todo o medo e dor insuportável em ódio.

Sentiu o poço escuro no fundo da alma submergir, vir à tona com tudo, encher suas veias, romper a pele, tomar ele por inteiro, deixar suas sombras ainda mais sólidas, afogar qualquer coisa que não fosse instinto.

O instinto de matar.

Ceifar.

A escuridão a sua volta ficou mais sólida, tomou forma, e a cada pensamento, cada passo que dava, uma delas tomava uma vida. Enroscavam-se em gargantas e deixavam os soldados sem ar, deixavam os olhos deles opacos e depois repletos de preto, como se lhe arrancasse a alma.

Ele não sabia onde terminava e as sombras começavam. Só que suas mãos estavam repletas de sangue, a sua espada havia se perdido, presa no corpo de alguém, mas Reveladora da Verdade estava lá, sugando a luz ao redor, tomando a vida de cada um que encontrava o fio da lâmina.

Corações perfurados. Gargantas cortadas. Azul cobalto. Sangue e sangue e sangue... Sombras densas e uma única pergunta:

Onde ela está?

Seu coração retumbava nos ouvidos, para além do sangue e da névoa escura, ele a via despencando do céu. Caindo como uma estrela.

Onde ela está?

Azriel matou e matou e matou, a procurando, buscando por ela em cada centímetro daquele lugar. Se segurando ao fio tenso entre eles. Tinha que encontrá-la, tinha... O Illyriano ouviu, não muito longe... Atravessou e encontrou Criastealle, sangrando. Meallan estava ao lado dela, ao pinotes, sem permitir que ninguém se aproximasse, mas Gwyn...

Não estava lá.

O pânico quase o fez explodir em energia com seus sifões e sombras outra vez, mas suas sombras ficaram densas, sussurraram todas de uma vez. O nome dela, quem estava com ela, para onde estava indo.

Ele nem pensou, passou de uma sombra para outra, bem a tempo de ver Eris aparecer no meio do acampamento, com sua parceira nos braços. Iria o matar, no momento em que suas sombras tinham lhe sussurrado o nome dele, tinha decidido que ia o matar. Mas...

Gwyn.

O encantador de sombras a tirou dos braços do Herdeiro da Outonal, que não relutou. Sentiu todas as defesas desabarem, tudo o que era se estilhaçar em milhares de pedaços quando a viu. Ferida, sangrando...