Azriel só podia dizer que tinha sido um longo dia. Havia começado bem, maravilhosamente, perfeitamente bem. Mas, depois, as coisas foram se complicando. Por um momento, havia se esquecido de todos os problemas os rodeando, se esquecido da guerra, das Rainhas e seus exércitos. De alianças políticas e espionagem e tudo entre uma coisa e outra.
Mas depois de um tempo, um pouco além do necessário, de seus irmãos o infernizando e falando coisas das quais apenas os dois idiotas riram, eles voltaram a agir de acordo com seus títulos — e idade — e lhe lembraram do quanto poderiam estar fodidos.
Acontece que além dos exércitos das Rainhas humanas reunidos, Hyrben e suas bestas, os carregamentos eram de fato pedras extraídas para a fabricação de armas. E não só para isso. Como o minério era usado para conter e parar a magia, então também podia ser usado para fazer não apenas algemas e armas, mas também refinado até que se tornasse armaduras resistentes contra magia.
Isso era algo pensado a muito mais tempo, um ardil posto em prática por Hyrben antes mesmo de ele obter o Caldeirão. Algo cobiçado pelas Rainhas ao formarem uma aliança. Apenas ficará pronto tarde demais para poder ser usado na primeira guerra. E apesar disso — de todas as manipulações e planos dos soberanos — cada vez mais, Az tinha a sensação de que todos não passavam de peças num tabuleiro. Sendo guiados sem que se dessem conta.
Tinha a sensação ainda mais forte que tudo aquilo, tinha algo a ver com Koschei. Ele era um imortal de verdade, séculos, milênios, eras, tempo era algo irrelevante para o ser. Algo que não morre não se preocupa com o tempo, algo que um dia fora tão poderoso e depois trancafiado e contido não se preocuparia em esperar e jogar com calma para conseguir o que um dia teve de volta.
Não sabia quantas cartas tinham na manga e se estivesse certo, se estivessem sendo guiados pelo o que as lendas diziam ser a Morte, então deveria ser muita coisa. E ele nem estava pensando nos tipos de venenos que aqueles do outro lado do mar poderiam produzir e banhar as armas. Fariam de tudo para que os humanos estivessem em maior vantagem.
Seu ombro ainda tinha a linha fina do corte, quase invisível agora e logo sumiria de vez. Naquela tarde tinha recebido um sermão de Feyre sobre como foi imprudente ao interceptar o navio. Rhys havia sorrido o tempo inteiro e ficado com aquela expressão de "eu avisei". Az só ignorou, deixou que sua Grã-Senhora falasse e prometeu ser mais cuidadoso.
Sequer estava pensando em Beron no momento, no quanto ele poderia dificultar as relações e alianças com outras cortes. Helion, graças aos Deuses, era um aliado leal. Kallias e sua corte ficariam do lado deles, ou pelo menos, era o que tudo indicava. Uma quase total certeza. Tarquin, apesar das antigas desavenças... Também os apoiaria, tinham conseguido estabelecer uma boa relação. Thesan era mais imprevisível, sempre fora imparcial demais. Mas sua decisão provavelmente se basearia na escolha dos outros territórios e nas vantagens que traria a ele e sua corte.
Mas tudo isso, exceto por Helion, eram quase certezas. Talvez houvesse um acordo que ficassem tentados a aceitar. Talvez se aliassem aos outros... A Outonal era um território de poder e enquanto fosse Beron a governá-la estaria contra eles. A primaveril estava em declínio, mas ainda assim era uma área considerável e se Tamlin resolvesse continuar sendo um filho da puta e colocasse os assuntos pessoais a frente de tudo... Se aliaria a Beron. E isso seria um grande problema, talvez não em força militar, mas teriam o território sul, já que faziam divisa direta com as terras humanas, poderiam ocupar o sul e implantar as bases dos exércitos ali.
E isso, faria com que além de ganharem espaço, pudessem ir ganhando espaço, sem falar nos ataques que viriam pelos litorais. Com Hyrben envolvido, atacariam pelo oeste e os navios de Scythia pelo leste. Eles provavelmente iriam os cercar para que precisassem dividir suas forças. Ataques por terra e mar. Sul, Leste e Oeste.
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𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠
FanfictionSorrir não é o mesmo que estar bem. Não falar não significa não ter nada a dizer. Azriel sempre guardou para si tudo o que sentia. Suas cicatrizes são muito mais profundas que aquelas em suas mãos, seu passado ainda paira sobre ele como um fantasma...