— O que pensa que está fazendo?
Foi a primeira coisa que saiu da sua boca ao entrar no quarto e ver o encantador de sombras terminando de apertar as amarras dos cintos que prendiam as adagas. Faziam cinco dias desde aquela tarde desastrosa e, graças aos Deuses, já tinham voltado para a Casa do Vento.
E, apesar do Illyriano estar bem e já ter começado a exercitar sua asa de novo, ele não tinha condições nenhuma de sair numa missão. Azriel se virou para ela, as sombras acompanhando o movimento e falou:
— Estou indo falar com alguns dos espiões que estão fazendo a guarda nos arredores...
— Você não vai. Nem pode voar ainda.
— Eu posso voar — ela abriu a boca, mas ele continuou: — Mas só vou fazer isso por tempo o suficiente para atravessar.
A ruiva balançou a cabeça e se aproximou dele dizendo:
— Eu acho que você não entendeu, vou repetir: Você não vai.
— Gwyn...
— Azriel, estou falando sério. Conversei com Rhysand, Nuala e Cerridwen que vão cuidar disso e depois passar um relatório para você, mas, pelo menos por hoje, você não vai.
Ela parou de falar e o silêncio encheu o quarto deles. O quarto deles, era assim agora. A ruiva ficou olhando para os olhos castanhos enquanto eles se semicerravam e o Illyriano balançou a cabeça. E então os dois começaram a falar, as vozes basicamente uma em cima da outra:
— Não pode está falando sério.
Ela deu um outro passo em sua direção.
— Estou.
Azriel balançou a cabeça de novo.
— Gwyneth Berdara, não pode fazer isso, é o meu trabalho...
Outro passo e ela falou, calmamente e cruzando os braços:
— Nem adianta se estressar. E eu posso sim, não vou deixar que saia assim sem saber que está cem por cento recuperado.
O mestre soltou um suspiro e se sentou na beira da cama e disse, o tom levemente contrariado:
— Eu estou bem.
Ao mesmo tempo que ela disse:
— Estou apenas me certificando de que meu parceiro está bem.
Azriel parou de falar, talvez tenha sido a palavra "parceiro", ou o fato de que entre o vai-e-vem, ele tenha se sentado na cama e ela estivesse de joelhos sob o colchão, com o corpo dele sobre o seu. Apenas um leve puxão e ela estaria sentada diretamente no colo dele.
— Não vai a lugar nenhum até que eu tenha certeza absoluta de que está bem mesmo — repetiu, indo um pouco mais para perto.
O olhar do encantador de sombras mudou, a íris castanho claro ficou mais escura e veios meio esverdeados assim como os riscos dourados se destacaram um pouco mais quando ele passou a analisar seu rosto, ao notar a proximidade entre eles.
— Certo... — a voz estava sutilmente mais grave também.
A sacerdotisa começou a justificar, mesmo quando o cheiro do Illyriano a atingiu:
— Não quero que... Que pense que vou passar a controlar cada passo que dá, nem nada assim, mas...
Sua voz falhou quando ele quem se aproximou e as mãos subiram pela lateral do seu corpo fazendo com que o tecido da túnica se arrastasse por sua pele até que chegaram em sua cintura e apertaram, a levando mais para perto. Isso foi mais que o suficiente para que tivesse que controlar o ritmo da respiração enquanto colocava as mãos sobre os ombros dele, tocando com cuidado a parte que a poucos dias estava machucada, mas que agora estava completamente curada.
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𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠
FanfictionSorrir não é o mesmo que estar bem. Não falar não significa não ter nada a dizer. Azriel sempre guardou para si tudo o que sentia. Suas cicatrizes são muito mais profundas que aquelas em suas mãos, seu passado ainda paira sobre ele como um fantasma...