CAPÍTULO 90

889 81 109
                                    

O coração dela pulsou.

E Az continuou se agarrando a ela, mesmo quando os curandeiros a rodeavam, murmuravam coisas um para o outro, abriam feridas para tirar todo o veneno restante, e as fechavam o mais rápido que podiam. Ela já tinha perdido sangue demais e havia um limite até mesmo para seres como eles.

O Illyriano ficou lá, segurando a mão dela, sem conseguir dizer nada. Sentia ela lutando, sentia a dor que aquilo causava, sentia o cansaço da alma dela. Ele sentia tudo. Então, continuou lá, com medo demais de se afastar e a perder.

Azriel ficou assim até sentir Thesan se aproximar dele, ouvir ele dizer algo, mas não entendeu, então o Grão-Senhor repetiu, a voz firme de um soberano:

— Preciso que saia — o encantador de sombras ergueu os olhos e soube que ainda estavam pretos ao ver a firmeza do macho a sua frente vacilar, mas foi rapidamente porque se recuperou e disse novamente — Preciso que saia — e antes que pudesse negar, acrescentou — é pelo bem dela, você está ocupando espaço demais, mal estamos conseguindo a tocar e ela está muito machucada e...

Se afastou no mesmo instante e só percebeu que seu irmão estava ali quando sentiu a mão dele em seu ombro, o segurando. Thesan se voltou para Gwyn e sentiu aquela pontada de pânico ao ver o quanto ainda estava machucada, as marcas das flechas, os cortes, o sangue...

Estava tão absorvido por aquilo que quase não notou Rhys o tirando dali até se ver fora da tenda e mesmo querendo voltar para lá, mesmo com o coração parecendo ser esmagado no peito, não conseguiu. Era torturante demais, o silêncio além do murmúrio dos curandeiros, o cheiro de sangue...

— Ela não pode morrer — falou tão baixo que se seu irmão não estivesse bem ali, na sua frente, não teria ouvido — Ela não pode morrer, Rhys.

A mão apertou mais seu ombro e, ainda que apreensivo, ele disse com toda a certeza que podia ter:

— Ela não vai.

Azriel nem sabia que estava chorando até se ver puxando a respiração em meio às lágrimas, o encarou, viu a sombra de tristeza nos olhos violetas e finalmente entendeu o preço que ele tinha se disposto a pagar ao fazer aquele acordo com Feyre, porque se era aquela dor que haviam sentido...

Ele entendia. Não havia como suportar aquilo.

Estava prestes a dizer isso ao irmão, mas a presença súbita o interrompeu. Suas sombras voltaram a se agitar e antes mesmo que conseguisse pensar, estava se movendo. Antes que se desse conta, havia socado Eris, que quase caiu com o impacto do golpe. Só não aconteceu porque Azriel o puxou colarinho da malha de ferro por baixo da armadura, um segundo antes de envolver a garganta dele com as duas mãos.

Os olhos do macho se arregalaram enquanto perdia o ar, mas em vez do rosto ficar vermelho pela falta de oxigênio, ficou mais pálido por conta de suas sombras. Teve a leve percepção do Grão-Senhor da Noturna ordenando para que largasse Eris, mas o mestre espião não o fez.

Ele só conseguia pensar que tinha sido o exército dele, por causa da maldita Corte que seria dele, que sua parceira quase tinha morrido. As sombras formaram um escudo a suas costas, sem deixar que nem mesmo Rhysand se aproximasse.

— Quem deu a ordem? — ele perguntou, ainda segurando o macho pelo pescoço.

Os olhos de Eris faiscaram, as mãos seguraram seu braço, tentando o fazer soltar e quando não conseguiu, Azriel sentiu o fogo começar a queimar o couro Illyriano. Aquilo só serviu para que apertasse mais, fazendo-o engasgar.

— Azriel! Solte Eris — Rhys mandou outra vez, finalmente dando um jeito de passar as sombras, tentando o afastar dele — Solte, porra.

Um som arranhado saiu da garganta do Vanserra, mas não havia nenhum sinal de que ele fosse colaborar e dizer quem havia dado a ordem para atirar em Gwyn, quem tinha sido o responsável por aquilo. Então continou apertando, mais um pouco e quebraria a porra do pescoço dele, e gostaria da sensação.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora