CAPÍTULO 26

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A porta à sua frente se abriu. Por um centésimo de segundo ele considerou se misturar as sombras da parede até se dar conta do quão ridículo aquilo era. E, bem, também não teve tempo para fazer aquilo.

Gwyn parou por um instante, piscando os olhos azuis, um pouco confusa. Não era de se admirar, já que não era exatamente normal abrir a porta do próprio quarto e encontrar alguém parado de frente para ela.

As sombras se esgueiraram por seus ombros e rodopiaram, como se a estivessem cumprimentando. Gwyn olhou para elas e sorriu, olhou para ele e sorriu. Azriel fez a única coisa que podia, sorriu de volta. Até se dar conta de que deveria falar alguma coisa.

Ela deve ter pensado a mesma coisa, porque os dois abriram a boca no mesmo instante, mas nenhum deles falou, sequer emitiram algum som. Eles fecharam a boca novamente e ficaram alguns segundos se encarando, sem falar nada, os dois meio que sem saber o que fazer e, bem, o silêncio não era constrangedor, mas um pouco estranho. Ele limpou a garganta e disse:

— Aham... Oi.

Uau... "Aham... Oi". Parabéns, Azriel.

Ela bufou uma risada e colocou uma mecha cor de cobre atrás da orelha ao responder:

— Oi, Az.

O Illyriano quase, quase falou "Oi" de novo, graças a Mãe conseguiu engolir a palavra a tempo. Gwyn desviou o olhar dele e, provavelmente para ter algo para fazer, fechou a porta atrás dela e ao fazer isso teve que dar um passo à frente. Dois passos, era o espaço entre eles agora.

Foi impossível não olhar, não observar os olhos azuis mar que tinham adquirido um tom mais escuro por causa da pouca luz. Nem a forma como as sardas pontilhavam a pele dela, poderia jurar que eram como pequenas estrelas. Gwyn era como uma constelação. Suas sombras murmuraram, parecendo concordar, como se aquilo fosse uma grande verdade.

Mas ele estava mais concentrado nas ondas que marcavam os cabelos dela, deveria ter acabado de desfazer uma trança, os fios estavam um tanto rebeldes e ele achou que combinava com ela, que ficavam bonitos mesmo bagunçados. Foi inconscientemente, mas não conseguiu evitar se perguntar como seria bagunça-los.

Deuses.

Az pigarreou, o som fazendo com a ruiva piscasse e ele procurou por alguma coisa, qualquer coisa, para dizer.

— Eu... — o resto da frase deve ter se perdido no caminho entre seu cérebro e sua boca. A culpa era dos idiotas de seus irmãos.

Gwyn balançou a cabeça levemente e ergueu a sobrancelha direita, um sorrisinho surgindo nos lábios ao falar, no tom que ele conhecia perfeitamente:

— Você...?

Ótimo, ali estava o humor dela, aquilo ele entendia, com aquilo ele sabia lidar. Um sorriso gêmeo do dela se formou em seus lábios, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, ela perguntou:

— Vai me falar ou perguntar alguma coisa, Encantador de Sombras?

Ele parou por um instante, procurando por algum indício de que ela sabia alguma coisa — será que Cassian tinha dito alguma merda? Se sim, ele o mataria. Azriel mataria Cassian e lidaria com a morte que Nestha lhe daria depois, mas o mataria — mas... não, era só uma provocação. Sem assassinato, então.

Az soltou o ar que nem sabia que estava prendendo e deu de ombros, usando de seu tom mais casual ao começar:

— Não, aliás, sim — certo, talvez não tão casual assim.

Gwyn riu e depois colocou a mão sobre a boca, para abafar o som e se ele não estivesse enganado dirigiu um rápido olhar para algumas portas à frente, onde ficava o quarto de Emerie. E fez um gesto com a cabeça para que o seguisse, ele se perguntou se tinha algo a ver com o fato do que a Illyriana tinha descoberto, visto... Interpretado, sinceramente não fazia diferença agora. Ele não fez nenhum protesto a seguí-la, a caminhada pelo corredor até a varanda lhe dando algum tempo para organizar os pensamentos e poder agir como alguém minimamente normal.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora