CAPÍTULO 94

1K 98 91
                                    

Um ano depois...

A neve caía lá fora, lenta e em pequenos flocos, só a lembrança da nevasca que tinha sido no dia anterior.

Gwyn sorriu ao ver a superfície congelada do rio, ao ouvir o murmúrio do vento para além da janela. Ela sempre iria amar a vista, tinha sido e continuaria sendo uma das coisas que mais a fazia amar sua casa.

Tinha dois meses e ainda achava meio estranho e engraçado — de um jeito bom — chamar algo de sua casa. Depois da guerra, as coisas ficaram meio bagunçadas e caóticas, havia muito a se fazer, as Valquírias, as novas sacerdotisas e Illyrianas que queriam se juntar a elas. Os medos que as seguiram, mesmo com as novas perspectivas. Azriel tinha estado mais ocupado que nunca monitorando os territórios e Illyria para controlar e evitar conflitos.

Havia feridos, pessoas que queriam mudar de território, imigrantes, invasores, fêmeas que buscavam ajuda, que precisavam de ajuda, crianças órfãs e machucadas, machos que também haviam perdido tudo.

Não houve tempo para pensar em muita coisa, os primeiros quatro meses foram basicamente no automático, os outros três, tomado de um cansaço e absurdo e de afazeres que tinham sido adiados o máximo possível, mas que exigiram uma solução. Os dois meses seguintes ainda tinham sido cansativos, mas com alguma normalização, já que as tarefas tinham sido estabelecidas e a situação colocada sob controle.

Gwyn não iria mentir e dizer que tinha sido um período fácil, nem mesmo em relação a ela e Az, os dois ficaram tão soterrados em tudo aquilo — como todo mundo — que acabaram negligenciando outras coisas. Deixando para depois e depois outros planos, outras conversas. Na maior parte do tempo, mal se viam durante o dia. Às vezes, Azriel sumia por quase uma semana, outras, por mais que isso.

Quando estavam juntos, estavam numa zona neutra, bem mas cansados demais para realmente aproveitar a companhia um do outro. Nos raros momentos em que estavam bem de verdade, ficavam grudados um ao outro durante uma madrugada para no outro dia voltarem ao ciclo infinito de afazeres.

E, claro, tinha as vezes que brigavam por um motivo idiota. Brigavam porque ele não dava notícias com frequência o suficiente quando se ausentava, ou porque não estavam ouvindo o que o outro estava dizendo, ou porque um queria algo e o outro, outra coisa; ou porque ela sentia um ciúme inexistente, mas que no momento parecia justificável. Na verdade, nem eram problemas reais, só que estavam sempre tão tensos, tão cansados e irritados com outras coisas que algo pequeno e ridículo se tornava em uma discussão.

Nunca durava muito, percebiam onde estavam errando e pediam desculpas, nas vezes em que a situação era mais tensa apenas ficavam em um silêncio desconfortável até que decidiam conversar e consertar as coisas.

Então, nove meses depois do fim da guerra, Azriel lhe apareceu mais arrumado e bonito que o normal, dizendo que a queria levar a um lugar. Primeiro, o encantador de sombras havia lhe levado para o topo da montanha de onde ele adorava observar Velaris e, finalmente, tinha dado o anel que havia prometido.

Gwyn olhou para o próprio dedo, a aliança de noivado era um solitário de ouro branco com uma turmalina azul no centro. Agora, ele ficava bem acima da aliança de casamento, feita do mesmo metal, só que cravejada com pequenos cristais de lua, que brilhava a luz.

Seu parceiro, e marido, também tinha dois anéis, o de noivado também era de ouro branco e cortado por duas linhas escuras de turmalina negra, e ele tinha colocado em cordão, a aliança ele nunca tirava e era igual a sua, só que cravejada com pedras de obsidiana.

Acontece que, depois de lhe pedir em casamento, Az a tinha feito fechar os olhos e atravessado com ela até um gramado, quando disse que podia olhar, Gwyn se viu diante de uma casa imensa ao pé da montanha, meio escondida e afastada do resto de Velaris, era onde ficava o fim do Sidra e a água se estendia por um azul infinito, encontrando o mar. Como eles haviam idealizado, só que mais. Era perfeita, muito mais que perfeita.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora