CAPÍTULO 92

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A máscara fazia os olhos de Nestha brilharem com um branco prateado, quase fantasmagórico. A Harpa parecia zunir nas mãos dela, Gwyn conseguia ouvir a vibração.

Emerie guardava a formação, seguida pelas outras guerreiras.

Estavam ganhando, Cassian continuava controlando os exércitos, os moldando a forma da batalha e por causa do General tinham conseguido superar o número de soldados, logo iriam conseguir subjugar o exército, mas para isso, teriam que dar um fim naquelas bestas que surgiam do inferno.

E só havia um jeito de fazer isso.

Do outro lado, ela viu Azriel, com armadura completa e sifões brilhando com um escuro profundo. O encantador de sombras olhou em sua direção, estavam distantes, mas sabia a expressão que tomava o rosto dele. Era a que dizia:

Lembre-se do que prometeu.

Gwyn só olhou para a Nestha e assentiu, sua irmã tocou uma das vinte e seis cordas da harpa, levando as guerreiras para o centro do campo de batalha. Mas não ela.

Um instante antes do som as transportar pelo espaço e tempo, Gwyn atravessou. A luz era mais rápida que o som afinal.

Ela fluiu pelas partículas da luz estelar, seguiu o caminho que tinha visto naquele sonho, sussurrado pela escuridão, o latejar na sua cabeça aumentava quanto mais se aproximava, deixando a certeza mórbida de que estava certa.

A Valquíria sentiu um segundo antes de parar, a mudança no ar. Antes que seus pés se fixassem na pedra, sua mão já segurava Narben.

— Você veio.

A voz parecia vir de todos os lugares, ecoar pela clareira, pelo lago, pela pedra cinzenta, pelo chão ao redor coberto por uma camada fina de neve, que fazia com que se lembrasse que no resto mundo — para além dos limites da Primaveril onde travavam a guerra — o inverno já tinha chegado.

Gwyn não sabia o que estava esperando, se um monstro horripilante ou belo, se algo que aparentasse ser da mesma espécie que ela ou um ancião decrépito, mas tudo o que havia era uma nuvem de fumaça negra, que tinha uma leve forma humanóide, se solidificava e dissipava, oscilando.

A Valquíria entendeu o truque, mas nem hesitou.

— Não entendo porque a surpresa — respondeu, colocando a calma e confiança que não sentia no tom — Insistiu tanto, então... Estou aqui.

Não conseguia discernir de fato um rosto na escuridão que rodopiava, mas podia jurar que tinha sorriso, aproximando-se pouco a pouco. E sem que nem piscasse, estava a sua frente. Narben vibrou, esquentou sobre sua palma e o brilho da espada vez aquilo recuar um pouco, ela rapidamente a puxou um pouco mais da bainha, fazendo o brilho vazar mais e repelindo o Feiticeiro.

Apesar de ter conseguido manter as costas eretas e controlar a respiração, seu coração começou a bater mais forte e Koschei deve ter ouvido isso, porque perguntou:

— Nervosa, pequena estrela?

Gwyn apenas ergueu mais o queixo, como tinha visto Nestha fazer tantas vezes e disse:

— Não é todo dia que tenho a honra de ficar frente a frente com o Deus da Morte que tentou me matar.

Tsc... Aquilo não fui eu, foi Beron.

— A seu comando.

— A ordem final foi dele, uma pena que não tenha feito direito, mas me serviu bem — a risada seca como folhas se quebrando, como a que tinha ouvido quando estava inconsciente, soou — Acredita que ele jurava que estava me usando para conseguir o que queria? Era um macho inteligente, manipulador, estrategista, não posso negar, mas ambicioso ao ponto de ficar cego. Seria mais fácil que os descendentes dele também fossem.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora