Fez-se tanto silêncio que se um alfinete caísse no chão, seria como ouvir um estrondo. Elain falou e todos, todos, na sala pararam e ficaram olhando para o outro, especialmente para ela, como se não soubessem o que fazer.
Gwyn, na verdade, não notou os olhares, porque por alguns instantes ela parou também, sua visão perdeu o foco e não conseguiu ouvir mais nada enquanto absorvia as palavras se perguntando se tinha mesmo ouvido corretamente.
"Quem bom que o deu a ela, fiquei pensando no que tinha feito com o colar depois que o devolvi."
As palavras ecoaram de novo por sua mente e ela não se permitiu respirar fundo, nem baixar o olhar, nem olhar para Azriel, nem deixar nenhum dos pensamentos que estavam tomando de conta da sua cabeça virem à tona, não, não ali. Então, só balançou a cabeça de um lado para outro e abriu um sorriso, tocando o pingente que podia jurar que estava frio sobre o toque, ou talvez fosse só a sua mão que estava meio gelada.
— Era seu? Era o seu presente de Solstício?
Perguntou retoricamente, Elain piscou e pareceu ligeiramente confusa e um tanto envergonhada mas assentiu mesmo assim e Gwyn não conseguiu evitar a leve risada e mesmo a seus ouvidos o som saiu meio amargo, meio surpreso, um tanto magoado. A ruiva falou se levantando:
— Bem... Faz sentido — para quem aquilo fazia sentido é que ela não sabia.
Ela ignorou completamente a leve dor no peito e os olhares das pessoas que tinha passado a chamar de família e deu a volta na mesa, indo até Elain e quando chegou ao lado dela, levou as mãos até o fecho do colar, o tirando calmamente — mesmo que na verdade quisesse arrancar a maldita coisa do seu pescoço no momento — e depois de o tirar ela sentiu imediatamente um tipo de vazio, mas se forçou a ignorar a sensação e deixou que pendesse entre seus dedos por um instante e o analisou, uma rosa pequena, translúcida, rosa, branco e vermelho. Ela quase riu de novo. Deuses, estava tão óbvio.
Gwyn deixou o colar em uma das mãos e fitou Elain, pegando uma das mãos dela e virando a palma para cima, a fêmea parecia mal estar respirando.
— Aqui está — colocou a corrente no centro da mão dela. E continuou, a sua voz imperturbavelmente neutra — É seu, fique com ele, no fim das contas combina muito mais com você.
Elain olhou para a própria mão e depois para ela de novo e depois para a outra ponta da mesa e Gwyn não queria, mas olhou também e ver Azriel com aquela expressão indecifrável no rosto, quase totalmente imóvel senão pelo respirar, foi demais para ela, porque todas as emoções e pensamentos a invadiram com força, martelaram a sua mente e a deixaram por um fio de perder o autocontrole.
Ninguém na sala tinha dito mais nenhum palavra e ela só engoliu seco, como se ao fazer isso pudesse manter tudo dentro de si e se forçou a sorrir e dizer, antes de começar a sair dali:
— Com licença.
E não esperou que mais alguém dissesse algo antes de sair da sala de jantar conseguindo manter uma postura decente, de jeito nenhum demonstraria o que estava sentindo, só que a verdade é que naquele instante, uma dorzinha começou a se espalhar por seu peito e um nó surgiu em sua garganta. Não era só mágoa, era raiva.
Gwyn sentiu a respiração ficar mais ofegante conforme os pensamentos a tomavam e passou a caminhar mais rápido pelo corredor, como se se colocasse uma grande distância entre ela e a sala de jantar o turbilhão em sua mente fosse pararmas... O colar era de Elain. Simplesmente assim. Ele já tinha dado a ela.
"Quem bom que o deu a ela, fiquei pensando no que tinha feito com o colar depois que o devolvi."
Ela fechou os olhos, mas não parou por nenhum segundo, agora fazia sentido. Tudo fazia muito sentido. Azriel chegando no ringue às duas da manhã, ela sabia, sabia, que tinha algo errado com ele, só não fazia a mínima ideia do quê, mas agora podia imaginar. As coisas começaram a fazer sentido, a reação dele quando viu a jóia com ela, o jeito como agiu quando ela perguntou porque o havia dado a ela. A voz do Illyriano doou em sua mente:
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠
Fiksi PenggemarSorrir não é o mesmo que estar bem. Não falar não significa não ter nada a dizer. Azriel sempre guardou para si tudo o que sentia. Suas cicatrizes são muito mais profundas que aquelas em suas mãos, seu passado ainda paira sobre ele como um fantasma...