CAPÍTULO 77

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Azriel sentiu primeiro um tipo de tontura, o que era muito estranho já que seus olhos ainda estavam fechados, depois leves pontadas de dores por todo o corpo e...

Gwyn.

Seus olhos se abriram no mesmo instante e estava tentando se levantar antes mesmo de se dar conta, mas o que o impediu foi outra pontada de dor, que trouxe consigo a lembrança de que estava machucado, mas... No seu quarto, na Casa do Rio e Gwyn... Do seu lado. Bem do seu lado.

Ele sentiu o corpo relaxar e respirou fundo e então tentou se virar da melhor forma que podia para observar a ruiva, seu peito se enchendo de alívio ao ver que não estava machucada. Sua atenção desceu para a mão dela, que estava agarrada à sua mesmo enquanto dormia.

O encantador de sombras voltou sua atenção ao rosto dela e tentou usar a outra mão para tirar as mechas do rosto, mas seu ombro e asa protestaram o fazendo se encolher um pouco, nesse momento, Gwyn acordou, ou melhor, basicamente saltou sobre o colchão, os olhos dela se abriram meio assustados e um tanto perdidos e aí o olhar encontrou o seu. A sacerdotisa pareceu parar de respirar por um segundo, ficou totalmente imóvel.

Az apertou um pouco mais a mão dela quando viu o lábio inferior tremer e os olhos se encherem de lágrimas, seu coração se apertando e ele queria apenas a puxar para si e abraçar com força, mas nem isso conseguia fazer naquele instante e não precisou porque com um soluço baixo Gwyn colocou próxima dele, o rosto contra seu peito o abraçando com firmeza, mas com cuidado também.

— Gwynie...

Sentiu uma lágrima morna escorrer do rosto dela e cair sobre sua pele e se esforçou para pelo menos passar os braços em volta dela e a deixar pertinho, sentindo o calor do corpo dela passar para o seu.

— No que você estava pensando?! — disse contra ele antes de se afastar, os olhos marejados e tom de voz embargado com um misto de raiva, medo e alívio — Deuses, Azriel, no que estava pensando?!

O Illyriano desviou o olhar por um instante, se lembrando que havia soltado a mão dela assim que tinha sentido que ela ia atravessar, acontece que... Ele ficou apavorado, atravessar não era algo fútil, requer concentração, especialmente da forma como eles faziam e carregar pessoas por tempo e espaço era ainda mais difícil, ele tinha o peso que era facilmente o triplo do dela, sem falar na energia canalizada em seus sifões e ainda por cima estava machucado, com flechas de freixo, tudo isso poderia interferir e ele tinha que se certificar que ela fosse para longe daquele lugar o mais rápido possível. Tinha que se assegurar que ela ficasse bem.

— Eu...

A ruiva secou o rosto com as costas das mãos e o interrompeu a voz ainda tremendo:

— Tem noção do quanto eu fiquei apavorada? Tem noção de quanto medo senti? De como fiquei quando aterrissei aqui e você não estava comigo?

Ele tinha. Ele tinha sim.

— Gwyn...

— Eu pensei que você ia morrer! — ela colocou a mão sobre o peito, como se ali ainda estivesse doendo — Eu senti você morrendo... eu...

O encantador de sombras ignorou as leves dores e se inclinou para frente e a trazendo para perto de si novamente enquanto murmurava:

— Desculpe, desculpe.

— Você mentiu para mim de novo — disse baixo.

Azriel fechou os olhos por um segundo e a apertou um pouco mais, depois deixou que ela saísse do abraço para poder a encarar novamente, tocando levemente o rosto cheio de sardas.

— Eu não podia arriscar você, Gwyn, não...

Os ombros da sacerdotisa tremeram de leve por conta de um soluço e mais algumas lágrimas escorreram.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora