CAPÍTULO 66

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Uma semana tinha passado, ela tinha dormido abraçada a Azriel todas as noites, às vezes mal dormindo, os dois às vezes passavam horas apenas percorrendo as mãos um pelo outro, explorando a pele, decorando cada traço, entendendo exatamente onde e como tocar, principalmente ela, em uma daquelas noites, Azriel tinha lhe dito, com detalhes, o que gostaria que fizesse, se ela quisesse. E ela quis e só podia dizer que havia sentido uma imensa satisfação ao ver o corpo do encantador de sombras estremecer e relaxar completamente sobre o lençol escuro.

Eles pareciam ter entrado num acordo silencioso, agora dormiam no quarto dele. Há mais de uma semana, quando estava tentando sair do abraço do encantador de sombras para se arrumar pro treino e não chegar atrasada, Azriel tinha apertado contra ele, lhe dado mais um beijo, a encarado com aqueles olhos castanhos ainda meio pesados por ter acordado a pouco tempo e dito, como quem não quer nada, que ela deveria levar alguns roupas para lá, para não ter que ir até o próprio quarto apenas para se trocar, ela tinha dados de ombros e concordado. O resultado disso era várias de suas coisas misturadas as deles, espalhadas pelo quarto.

Os treinos seguiam quase iguais, mas tinha a sensação de que Cass as estava forçando mais que o normal, mas ela não estava reclamando, gostava disso e sabia que precisariam do máximo e melhor treinamento possível. Ainda não tinham perguntado as outras valquírias se teria alguma possibilidade de se juntarem a elas para guerra e nem sabiam se iriam, todos eram muito bem treinadas e fortes, mas nunca tinham estado numa situação de risco ou numa batalha de verdade, pelo menos ela, Nes e Emes tinham uma noção do caos que era devido ao Rito.

E também havia o fato que todas as vezes que pensavam em falar com elas as viam conversando e sorrindo e vivendo, tantas delas tinham passado tanto tempo para conseguir se sentirem vivas e bem de novo que as três se entreolhavam e bastava para que entendessem que não perguntariam aquilo, mesmo sabendo que a escolha de lutar ou não eram delas e não podiam as tirar aquele direito, mas... Estragar aquela paz e leveza? Trazer medo e apreensão quando finalmente tinham conseguido se livrar dessas coisas? Não conseguiram. Pelo menos não ainda. Tirando essas preocupações, estava tudo bem.

Ela estava ocupada a cada segundo do dia, treinando com as Valquírias, trabalhando com Merrill, lendo e pesquisando, treinando seu dom e lendo, estando com suas irmãs, ainda indo aos cultos quando conseguia um tempo para aquilo e ficando com Az todas as noite, já que na maior parte do dia estavam enrolados com outras coisas. Ele estava saindo todos os dias, observando os movimentos dos reinos e procurando por algum sinal de ameaça, mas estava muito quieto e o mestre espião estava ficando inquieto e frustrado com isso, então Gwyn deitava a cabeça no ombro dele o ouvia falar sobre cada uma daquelas coisas e possíveis riscos que estavam correndo e sempre dava o jeito de o lembrar de uma forma sutil que nada daquilo não era culpa dele.

Talvez fosse uma das coisas que mais gostava entre eles: o fato dos dois se ouvirem. A conversa sempre fluía, na verdade sempre foi assim, mas agora eles dois estavam compartilhando tudo, desde as preocupações sobre a guerra — às vezes passavam um bom tempo analisando cada padrão de movimento, pensando nas estratégias que estariam usando e quais eles podiam usar — ele a ouvia falar e falar sobre as pesquisas que estava fazendo e a história das Valquírias e todas as teorias que tinha sobre o assunto — já que não havia quase nenhum dado sobre o início delas — falava até achar que estava o entediando, mas aí Az estava completamente focado e começava a fazer perguntas sobre detalhes que não explicado. E então havia o momento em que as palavras cessavam e eles tinham outro tipo de conversa.

Às vezes, quando acordava com Az beijando seu rosto ou quando estavam só os dois sentados na cama com papéis espalhados ao redor deles e falando até altas horas da noite e voz dele soava alta e leve e ao mesmo tempo que carregava ao rouquidão suave e se dava conta o quanto adorava o som. Quando via ou sentia as sombras a cercaram ou rodopiar a sua volta e aquela coisa em seu peito se remexia em resposta ou quando estava bem junto dele, os dois tentando regular a respiração, o coração retumbando em seu peito e os dedos do encantador de sombras acariciando sua pele... Ou na vez em que ele ficou por horas traçando um caminho por suas sardas e as contando — ele ainda jurava que contaria todas — e segundo ele, havia cento e sessenta e quatro entre a base do seu pescoço e seu ombro esquerdo. Nesses momentos, muitas palavras passavam pela mente dela.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora