A ruiva continuou andando, apenas um passo após o outro, se esforçando o máximo possível para não pensar. Era muito mais difícil do que tinha pensado. Aquele tinha sido um ataque pequeno e o caos era... O que devia acontecer em um campo de guerra de verdade... Ela balançou a cabeça de um lado para o outro.
Não pensar. Apenas continuar se movendo e respirando.
Foi o que fez e, sem que nem se desse conta, acabou perto de um lago pequeno no declive de um pequeno monte. Era bonito, silencioso, calmo. Completamente diferente da cena na pequena vila a alguns quilômetros.
Gwyn fechou os olhos e puxou o ar, grata por ter aprendido a usar o silenciamento mental. Só precisava de um tempo. Só um pouco para se recompor e se manter firme. Por isso se sentou em uma pedra, ao lado de um pequeno tronco e a beira da água, se concentrando na melodia quase inaudível dela.
Ela não se virou ao ouvir os passos, apenas continuou encarando a água e só quando sua visão viu o rastro vermelho dos fios de cabelo do macho que sentou ao seu lado, que olhou de fato para ele.
— Me desculpe — Lucien disse.
— Pelo o quê?
— Por Tamlin.
A Valquíria fez que não com a cabeça.
— Não tem que desculpar por ele, Lucien. Você não é responsável pelos atos dele, não tem nada a ver com isso.
O ruivo ficou por alguns segundos em silêncio, como se não soubesse se aquilo era mesmo verdade ou não, depois, fez um leve gesto. Ela não soube dizer o que significava. Lucien baixou a cabeça, arrancou uma erva-daninha que crescia ao pé do tronco, a retorceu nas mãos e começou, sem olhar para ela:
— Eu... — ele parou — O que você falou, sobre a menina... — as palavras se perderam e o coração dela se apertou dentro do peito. Ele ficou um segundo em silêncio antes de continuar e parar outra vez — Eu...
O nó em sua garganta cresceu e ela fez o máximo para engolí-lo e falar:
— Eu sinto muito.
Lucien ergueu o rosto, que tinha um misto de raiva, dor, tristeza, vergonha...
— Eu sinto muito — repetiu, com lágrimas começando a arder nos olhos.
— Como...
— Vivo há mais de dois anos com fêmeas que viveram coisas horríveis, e não importa o quanto a história mude, Lucien, tem uma coisa que sempre vai fazer um sobrevivente enxergar outro.
A garganta dele oscilou.
— O que é?
— Olhos. Dá para ver a dor, o sentimento de culpa, a forma... A forma como a pessoa se sente impotente e suja e como dói. Mas você não teve culpa. Eu não sei como foi ou quando, mas você não merecia isso. Ninguém merece. E a culpa não foi sua. Não foi.
Lucien soltou um suspiro pesado, trêmulo. Ele parecia extremamente cansado. Ela o viu passar a mão pelo rosto enquanto respirava profundamente, tentando conter as lágrimas que ela sabia que estavam presas enquanto assentiu, como se estivesse tentando acreditar nas palavras.
Naquele instante, Gwyn se perguntou se havia mais pessoas que sabiam, se alguém já tinha dito que ele não era culpado, independente da situação. Se perguntou se alguém tinha estado ao lado dele ou se ele tinha lidado com a dor sozinho.
— Obrigado — ele disse, com tom de voz baixo — Às vezes, é... solitário e...
— Doloroso.
Um aceno de cabeça e uma respiração longa.

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𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠
Fiksi PenggemarSorrir não é o mesmo que estar bem. Não falar não significa não ter nada a dizer. Azriel sempre guardou para si tudo o que sentia. Suas cicatrizes são muito mais profundas que aquelas em suas mãos, seu passado ainda paira sobre ele como um fantasma...