CAPÍTULO 22

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As palavras mal tinham saído de sua boca quando ele desviou os olhos dos dela. Se concentrando em qualquer coisa que não fosse eles.

- Entre - disse, abrindo mais a porta, aquele sorriso se alargando um pouco.

Az entrou no pequeno chalé, Rhys e ele tinham cuidado para que o lugar fosse o mais confortável possível e era, sabia que sua mãe estava bem ali, que adorava o lugar, mas aquela parte egoísta sua odiava o fato de que ela estivesse escolhido estar ali e não com ele.

O Illyriano piscou, sentindo a pontada de culpa familiar no peito, não devia pensar aquilo, deveria estar feliz por sua mãe estar feliz e em paz, mas ainda não conseguia evitar aquela pontinha de remorso por ela não ter escolhido ele, mesmo que aquilo o fizesse se sentir um ser horrível. Ela veio para seu lado e observou de cima abaixo, do mesmo que ele havia feito quando tinha chegado.

Sua mãe deu um passo à frente e emoldurou o rosto dele com as mãos. Azriel fechou os olhos por um segundo enquanto sentia o toque familiar. Quantas vezes ela tinha feito aquilo durante os séculos? Quantas vezes ele não tinha contado os dias, às vezes se confundido e perdendo a noção do tempo, esperando para sentir aquilo de novo, naquela masmorra?

Az se lembrava que além de contar o tempo para ver sua mãe de novo, ele também contava aqueles toques, cada um deles, mas depois que foi levado para Refúgio do Vento - depois de décadas e décadas sem vê-la - havia perdido a conta, o número foi se apagando de sua mente. Ele também se lembrava de se sentir culpado todas as vezes que tentava lembrar e não conseguia, se lembrava de que as vezes quando ficava com saudades demais e o sono simplesmente não vinha, ele tocava o próprio rosto do mesmo jeito, tentando com todas as suas forças não se esquecer de qual era a sensação também. Tentando não esquecer do rosto dela, nem da voz. Tentando com todas as forças não esquecê-la.

Az também se lembrava de que todas as vezes prometia a si mesmo de que se tornaria forte e voltaria para tirá-la daquele inferno. E de que a veria de novo, que a protegeria. Se lembrava de que mesmo não sendo religioso, nem mesmo na época, ele juntava as mãos e rogava à Mãe para que ela estivesse bem, para que não a machucassem. Não mais.

Ele abriu os olhos e encarou sua mãe, encarou aquela expressão meio triste, ela sempre teve um jeito de saber tudo o que se passava em sua mente. Ela piscou, tirou as mãos do rosto dele e disse o olhando da cabeça aos pés de novo:

- Você está bonito.

Az não conseguiu evitar rir, era sempre a mesma coisa.

- A senhora sempre diz isso.

- É sempre verdade.

Ele nunca tinha acreditado muito naquela verdade, que dizer, não era um idiota, muito menos burro, sabia que atría alguns - talvez vários - olhares, mas naquele momento estava com as botas cheias de barro, estava ciente de que deveria estar meio descabelado e precisando de um banho. Com certeza já tinha visto dias bem piores, mas também havia alguns melhores. No entanto, isso nunca importava, não importava o estado em que estivesse, ela sempre dizia o mesmo.

Azriel a observou se afastar, tentando não reparar demais no leve - quase imperceptível - mancar da mãe, nunca precisou que ela lhe contasse, mas sabia que aquilo foi a sequela que restou de uma vez que o aquele filho da puta perdeu o controle e a bateu. Foi quando ele tinha sete anos, mas lembrava claramente do dia em o Illyriano tinha ido até o lugar em que ele ficava, se lembrava de saber que algo de errado tinha acontecido antes mesmo dele abrir a boca e dizer quatro palavras:

"Ela não vem hoje."

E assim que o Lorde tinha sumido de vista, suas sombras tinham lhe dito que sua mãe estava machucada. Ele tinha ficado com medo, das sombras as quais tinha passado a entender o que diziam a pouco tempo e tinha medo do que elas eram, mas principalmente teve medo de que ela nunca mais viesse. Conviveu com esse medo por duas semanas, até que um dia, sua mãe entrou mancando na cela, colocou as mãos em cada lado do seu rosto e disse que sentia muito e que estava com saudades e depois pediu desculpas de novo, ele tinha a abraçado e perguntado se ela estava bem.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora