CAPÍTULO 29

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A sacerdotisa deveria estar encarando um ponto fixo na parede entre uma pilha de livros e outra. Na verdade, ela estava, só que sequer tinha se dado conta disso. Seus pensamentos estavam bem distantes no momento.

Sua mente não parava de - simplesmente não parava - de voltar a três horas atrás, chegava a ser irritante não conseguir se concentrar ou ter qualquer controle sobre os próprios pensamentos. Só que tudo em sua cabeça girava em torno do momento em que Azriel tinha pisado no ringue até o que ele fora para os Deuses sabem onde.

Ela já tinha pensado e pensado e chegado à conclusão de que tudo aquilo não era só amizade, não tinha tido muitos amigos em sua vida, mas com certeza não havia muitas chances de olhar para um amigo como ela olhava para Az, de sentir o que ela sentia.

Tinha revivido cada instante, cada palavra e cada toque. Cada sensação. E feito isso de novo porque era realmente impossível evitar.

E, apesar disso, também tinha se xingado pelo menos umas centenas de milhares de vezes por ter sido tão, tão... Ela não sabia a palavra. Descuidada? Não achava que era o suficiente. Só que a partir do momento em que voltou a raciocinar corretamente, se deu conta de que estavam no meio do treinamento, de que haviam outras sacerdotisas lá e a culpa a tinha atingido como uma tijolada. E se tivesse deixado uma delas desconfortável? E se... Seu coração afundou com a ideia.

Uma parte de seu cérebro disse que não, que não era assim, já que quando olhou ao redor quase todas elas tinham a encarado por um instante e aberto sorrisos. Alguns quase imperceptíveis e outros mais abertos. Mas uma partezinha sua se sentia culpada por não ter pensado naquilo antes e...

- Gwyneth! - foi o berro que a fez sair do espiral interminável de pensamentos - Vou falar uma última vez...

Ela se pôs de pé num salto ágil.

- Desculpe. Desculpe. Não estava ouvindo, mas agora estou.

- E de que adianta isso? Se quisesse falar por horas com uma parede não precisaria de você.

A jovem não se incomodou com o tom, apenas arrumou a postura.

- Estava distraída.

- Você está sempre distraída, ultimamente mais que o normal.

Ela não disse nada, porque era verdade. Era outra coisa que tinha que melhorar.

- Sinto muito.

- Sempre sente.

Gwyn conteve um suspiro e fechou e abriu as mãos duas ou três vezes tentando liberar qualquer sinal de tensão e incômodo, percebendo um instante mais tarde que pegou essa mania de Azriel. Ela balançou a cabeça de leve. Foco.

- Diga o que tenho que fazer - foi tudo o que disse.

A sacerdotisa à sua frente bateu os dedos na capa do livro algumas vezes, ela demorou um pouco mais que o necessário para perceber que era aquele tinha encontrado quando desceu com Nestha e Emeria até o nível inferior.

- Isso aqui, perguntei onde achou e você não me respondeu.

Na verdade ela tinha respondido, no dia em que o encontrou, só que não tinha sido o exatamente o que Merrill queria ouvir.

- Fomos ao nível sete - as sobrancelhas de outra se ergueram - Nes precisava encontrar algo e a ajudei, enquanto fazia isso acabei achando o livro. Por que?

Merrill travou o maxilar por uns poucos segundos, com certeza tentando fazer a "gentileza" de não gritar por ela ter ido fazer outra coisa enquanto estava trabalhando, mesmo que na ocasião só estivesse devolvendo os livros para ajudar no trabalho das outras.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora