O vigésimo

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Ele empurrou a porta, e a porta empurrou para trás.

Uma porta de vaivém leve, que se movia com facilidade há anos. De fato, há pouco tempo, V a tinha mantido bem aberta, para que uma desavisada Evey pudesse passar por debaixo de seu braço. Uma ação tão agridoce que tinha sido. Uma ação tão normal. Mesmo uma ação pessoal, quase íntima. Como se a dança deles tivesse continuado na Galeria das Sombras.

Agora, porém, a porta lutou contra ele, tentando segurá-lo. Apenas outra barreira quando ele não tinha tempo nem energia de sobra.

Ele empurrou seu ombro contra ela, ou melhor, deixou cair aquela parte de seu corpo doente sobre ela, deixando seu peso fazer o trabalho que seus músculos não podiam mais suportar. Ele caiu, caindo no chão.

Era uma agonia verdadeira, não adulterada, que o mantinha em suas garras. Surgindo através dele. Arranhando uma memória física semelhante, com duas longas décadas. Buracos de bala que começaram a coagular, se abriram novamente. Ele realmente podia sentir isso, facadas afiadas se repetindo em toda a frente de seu corpo. Talvez ele devesse ter continuado com o peitoral de armadura por mais algum tempo. Talvez tivesse fornecido suporte adicional, ou pelo menos distribuído o peso desse impacto com a porta. Ele poderia ter carregado o peso?

De alguma forma, ele rolou de joelhos, uma rótula gemendo por causa da bala ainda rastejando por baixo. E se isso pudesse ser creditado à resiliência além do normal de seu corpo, ou à força de vontade além do normal de sua mente, ele conseguiu se endireitar mais uma vez. Seu juízo ainda estava sobre ele também. Ele até sabia o suficiente para limpar o excesso de sangue de sua luva, de modo que, quando ele agarrasse um corrimão de metal próximo, seu aperto não escorregasse. Um grunhido, um suspiro, e ele se puxou de volta para uma posição semi-de pé.

Ele chegou às escadas. Finalmente, ele alcançou as escadas.

Incrível, não foi? Quão apertado o fim de sua vida tinha cronometrado? Sua jornada estava quase no fim, assim como suas forças estavam quase acabando. Suba este lance de escadas, em uma esquina, outros dez passos mais ou menos, e lá estaria seu trem. Seu projeto de mais de uma década. Sua paz. Seu presente para o mundo, em recompensa pelo terror profano que o vírus, infiltrado em seu próprio sangue, havia desencadeado.

E também haveria Evey. Ele esperava.

Foram dois lances de escada, na verdade, dez e dez, com um patamar de 180 graus no meio. E o progresso seria uma década de passos de cada vez. Um passo de cada vez. Força de vontade suficiente para cada elevação vertical de cinco polegadas, e ele conseguiria.

O primeiro passo que seria dado em nome do amigo há muito perdido que ele nunca conheceu de verdade. Valerie. Seu primeiro passo desde Larkhill foi dado em nome dela. Parecia certo fechar o círculo... sua força tinha começado muito disso. E agora se estendia até à mulher que ele amava. A força de Valerie, em ação dentro de Evey. Ajudaria com o primeiro passo de Evey também, ele esperava, em direção ao que quer que ela escolhesse fazer de uma nova Londres.

Centímetros mais altos ao longo do parapeito, com as mãos entrelaçadas, e ele conseguiu dar o segundo passo com um pouco mais de vigor. Relativamente falando. Ele se dedicaria a alguém cuja vida havia sido muito mais frágil até do que a de Valerie. Alguém que tinha incorporado em sua memória tão bem embora. A criança nascida da única prisioneira grávida de Larkhill. "Uma fonte fortuita", foi o diagnóstico sussurrado de Prothero sobre a situação. V o tinha ouvido com seus próprios dois ouvidos. Uma criança nunca poderia ter sido ensacada preta e levada como as outras, mesmo a Londres paralisada teria feito algum tipo de clamor. Assim, o nascimento tornou-se um daqueles poucos pecados que nem sequer foram confessados ​​ao 'sacerdote' dos demônios. O destino da criança, desconhecido, embora certamente não tenha sido bom.

VIOLA - V de VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora