VIOLA - V de Vingança

As aparências podem enganar

22h30, e Gordon olhou ansioso para o relógio.

Um toque de recolher com código vermelho entraria em vigor em breve... apenas um passo abaixo de um estado militar total. E aqui estava ele, arriscando a vida nas ruas quase desertas da cidade.

Ele parecia inocente o suficiente, enquanto olhava para cima e para baixo ao longo desta escura passagem de Londres? Ele parecia um Drone comum da cidade, esperando por um conhecido ou uma carona? Ou ele parecia alguém de natureza bastante duvidosa, se escondendo nas sombras, a caminho de um encontro clandestino, provavelmente ilegal? Era este o seu momento de capa e adaga?

O showman sorriu para si mesmo, nunca tendo percebido a adequação do velho clichê. ... 'Capa e espada'. Ele teria que se lembrar disso.

Mas o que ele faria se um Fingerman passasse? Será que ele poderia inventar uma desculpa adequada? Ou ele teria que recorrer à sua famosa réplica espirituosa?

Que noite. Que noite estressante e horrível.

E ele realmente não podia não arriscar um confronto com as autoridades esta noite. Embora uma busca superficial em sua casa pudesse evitar por pouco seus tesouros secretos, as autoridades teriam dificuldade em perder uma fugitiva, uma certa Evey Hammond, atendendo a maldita porta da frente.

Esperançosamente ela estava dormindo agora, ao invés de ainda se preocupar com o que ele estava fazendo. Sua desculpa de fazer um recado para um colega de trabalho tinha funcionado moderadamente bem. Pelo menos era improvável que Evey aparecesse no BTN amanhã e descobrisse a mentira. Mas o que mais ele poderia fazer? Uma vez que a mensagem apareceu na tela do computador, que alternativa ele realmente tinha?

O comunicado tinha sido enigmático, mas curto. O conhecido de Gordon, ele que vivia nas sombras como um deus etéreo da rebelião, havia solicitado uma troca secreta.  Bem, exigiu, com mais precisão. E Gordon sabia que não devia discutir quando as palavras de V eram tão incrivelmente concisas. O homem mascarado estava aparentemente muito angustiado, e Gordon tinha uma boa ideia do porquê.

... Evey.

Gordon tinha suspeitado que V estivesse escondendo a garota, nas últimas semanas... desde que as notícias raivosamente espalharam relatórios de sua ligação. Ele odiava usar a palavra 'envolvimento'. Parecia muito que ele estava assumindo a culpa de Evey. Claro, até 'culpa' era uma palavra relativa nos dias de hoje. Mas Gordon era de fato bastante amigável com a jovem, para saber que ela nunca estaria "envolvida" em uma revolução. Observando do lado de fora, talvez. E muito provavelmente protegida pelo homem mascarado se ela se tornasse involuntariamente ligada à situação... Mas 'envolvido'? ... Dificilmente.

Que V a estava segurando contra sua vontade, agora isso tinha sido uma surpresa. Mas V estava focado... e obsessivamente. Sim, Gordon podia ver facilmente como Evey poderia significar a morte do homem mascarado. Em questão de horas, até mesmo, se ela quisesse.

Ainda assim... essa coisa de 'manto e punhal' simplesmente não era o gênero de Gordon.

Pela quinta vez em tantos minutos, o showman nervoso olhou para cima e para baixo no corredor, perguntando-se quem o encontraria primeiro, ele que havia convocado essa pequena sarau, ou um bando de Fingermen, perguntando por que diabos uma televisão personalidade estaria à espreita a esta hora.

E finalmente, essa pergunta foi respondida... de uma forma que quase deu a Gordon um ataque cardíaco. 

— Ela está bem? — veio uma voz ressonante do outro lado da parede próxima.

Gordon se virou, seus olhos procurando freneticamente o lado de um prédio velho e decadente. Pedra silenciosa e argamassa o encararam de volta, mas ele sabia que tinha ouvido algo. — Com licença? — ele perguntou, percebendo o quão ridículo ele deve parecer.  Sozinho, espreitando em uma rua deserta de Londres, perigosamente perto do toque de recolher, e agora conversando com uma parede.