Defesa a vapor

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—Encontrei aquele artigo que você queria sobre o Picasso perdido— anunciou Evey, virando a esquina para a lavanderia. —Acontece que você estava procurando no arquivo errado. No diário totalmente errado, na verdade— Ela seria capaz de reprimir seu sorriso por ter pesquisado com sucesso algo que ele não poderia? Foi um momento único na vida. Ela merecia pelo menos um pouco de presunção, não merecia?

—Ah, isso explicaria tudo— respondeu ele, tão casualmente, levando-o com tanta naturalidade, que ela acabou quase sem nenhuma auto-satisfação, afinal. —Talvez minhas referências iniciais estivessem incorretas— continuou ele. —Não importa. Estarei lá em breve— Ele ergueu os olhos brevemente de sua tarefa atual de passar roupa; quase feito pela aparência dele. Cinco camisas prontas penduradas em um cabideiro próximo, o tecido de algodão primorosamente alisado e as mangas dobradas cuidadosamente nos painéis frontais.

Ele pode até estar engomando as mangas nessa posição. Ela nunca tinha notado antes. Era estranho olhar para uma camisa preta que colocava suas 'mãos' tão perfeitamente na frente de si mesma, quase do jeito que o próprio homem costumava fazer.

Ao lado delas, pendiam duas calças igualmente perfeitas. E jogado sobre a mesa estava outro de cada peça de roupa, esperando sua vez para também alcançar tal beleza. Ele provavelmente não estaria nisso por mais de quinze minutos, então ela se virou para sair.

Então ela avistou algo branco, sendo colocado para o vapor do ferro.

Branco?

Desde quando V usa branco?

Ela se moveu ao lado dele, para ser saudada pela voz sempre protetora de seu companheiro, por trás do sorriso sempre largo de Fawkes. —Está tudo bem, amor?—

—Você está passando uma das minhas meias?— ela exclamou, seu rosto registrando sua descrença.

—Claro que não— respondeu ele. —Seu parceiro será passando feito também—

E a inclinação sarcástica da cabeça de Evey superou até mesmo a de seu companheiro. —Por que você está passando QUALQUER meias?—

—Eu... encontrei este atrás dos sacos de terra para vasos. Na pequena sala de jardinagem— Ele fez uma pausa para arrumar a meia perfeitamente na almofada de passar roupa. —Deve ter sido pregado contra a parede quando a pilha se deslizou—

Aquele sorriso de antes? No rosto de Evey? Ele se foi completamente, transformado em um sorriso tímido. Ah sim, ela se lembrava do dia a que ele provavelmente se referia, e podia imaginar como a meia tinha ido parar naquele esconderijo. Esse foi o dia em que ela chegou à Galeria sem avisar, surpreendeu seu companheiro com um abraço particularmente amoroso e... bem, uma sala cheia de plantas e flores que nunca tinham visto o sol; nunca senti chuva genuína; nunca senti uma brisa suave em um prado na encosta; no entanto, teve uma boa visão de perto dos 'pássaros e abelhas'.

Ela se moveu ao lado dele, sua mão pousou na parte inferior de suas costas, então deslizando ao redor de sua cintura em lembrança. Ele ainda trabalhava, espalhando cuidadosamente o punho da meia, formando uma peça de roupa tão perfeita sobre a superfície de passar roupa que era quase uma beleza.

Tantos cuidados.

Isso só tornou sua pergunta ainda mais válida, em sua opinião.

—Bem, isso explica a lavagem— ela permitiu. —Especialmente se estivesse naquela sujeira. Porém, não explica como engomar—

—As meias ficam mais planas depois de passadas— ele respondeu casualmente. —Eles se dobram mais confortavelmente—

—Além disso, ninguém quer meias amassadas— ela riu. —Certo? Você está procurando por palhas, você sabe—

VIOLA - V de VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora