VIOLA - V de Vingança

Não conte a ela

O tempo estava passando. Abaixo na Galeria das Sombras, assim como no mundo acima. A cidade estava esperando, assim como Creedy, e V trabalhou tão diligentemente quanto pôde, realizando fielmente outra tarefa desagradável.

Um tinido, quando o homem mascarado largou o alicate no chão duro de pedra. Então ele se afastou, pensativo... levando seu gordo amigo do metal para uma despedida final.

O último dos rebites estava solto, aqueles que seguravam o peitoral no lugar. Todos, exceto dois, haviam sido removidos na noite anterior, e foi aí que ele parou.

Por quê? Ele não tinha certeza.

Temer?

Não. Pelo menos não da maneira que a maioria dos homens se sentiria. O pequeno ato de morrer não era nada comparado à fruição de vinte anos gastos planejando e criando estratégias. A justiça estava prestes a ser feita, e ele não pediria desculpas a ninguém por isso. Não ele mesmo. Nem mesmo Evey. E, além disso, quem poderia dizer qual poderia ser a opinião dela sobre "justiça", ou como o próprio destino dele seria determinado se deixado em suas mãos. Qual era o protocolo adequado sobre monstros e justiça?

Não. No fundo, 'medo' não era nada mais do que apreensão do desconhecido, e não havia mais nada ao acaso. Ele sabia exatamente em que mãos o fim viria. Ele sabia como, e ele até sabia uma aproximação grosseira de quando. Logo... logo... ele finalmente poderia descansar. Não apenas seu corpo, mas sua mente também, em qualquer coisa que possa vir além deste mundo. Era seguro começar a relaxar nesse alívio? Pelo menos mentalmente?

Essa foi a única apreensão que ele sentiu. Essa foi a única parte que ele teve dificuldade em aceitar, a crença de que a paz poderia finalmente estar próxima. E foi provavelmente por isso que ele não havia removido esses dois últimos rebites vinte e quatro horas atrás. Se ele tivesse feito isso, ele poderia ter começado a sentir o alívio, e ainda havia muito que precisava ser feito primeiro.

Respirando fundo, ele tentou limpar sua mente. Foco... isso era o que ele exigiria esta noite. Foco.

— Você acha que algum dia vai reivindicar a vitória, Mondego? — ele perguntou a armadura. Então ele fez uma pausa, inclinando a cabeça como se fingisse ouvir. Um último capricho.

— Dantes deve vencer — ele acalmou o cavaleiro silencioso, assim como alguém pode explicar algo triste a uma criança. O capacete de metal não revelava mais emoção do que a máscara fawkesiana, mas de alguma forma, à semelhança de sua própria derrota predestinada, o cavaleiro parecia um pouco mais triste. Sabia que V estava correto? Estava mesmo se solidarizando com o humano mascarado?

— A justiça deve vir, e Dantes deve vencer — Ele estendeu a mão, arrancando o primeiro daqueles dois rebites com os dedos enluvados. — E mesmo este peitoral robusto que você usa, não lhe trará alívio. Mas poderia para mim. Apenas o suficiente para suportar o que vier.—

O rebite caiu no chão, casualmente, pois ele sabia que não seria o único a limpá-lo, e ele olhou para o relógio de parede. Era uma tática de atraso subconsciente. Não para adiar seu próprio destino, mas talvez para retardar o momento em que teria que dizer o último adeus a Evey também. Cada passo levava ao seguinte, não é?

Querida Evey....

Ela estava esperando por ele no elevador. O mesmo elevador que uma vez os levará ao momento de seu renascimento, agora os levaria ao próximo passo em sua morte. Ele lhe daria um presente. Seu presente para toda a Inglaterra, de certa forma, deixando a justiça como seu verdadeiro presente para si mesmo.

Ele ainda não conseguia acreditar que ela tinha voltado. Mesmo agora, ele quase desejou que ela o chamasse, questionando onde ele estava. Isso provaria que a última hora de dança com a garota não tinha sido uma mera loucura da imaginação. O cérebro pode pregar peças em você, quando sob tal estresse.