Capítulo 95

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Eliza

Soube que o Amon foi para uns dos castelos mais antigos do purgatório, onde provavelmente a família dele viveu, queria saber o que está fazendo lá. Eu preciso saber, pois não vou simplesmente ignorar a forma estranha que está agindo ultimamente.

Quer dizer, não que seja ruim ele estar sendo carinhoso, só quero saber por que disso agora.

Chego em um reino abandonado, as plantas e árvores dominaram tudo, consigo ver animais pelas ruas enquanto estou a voar.

É tão lindo, mas ao mesmo tempo assustador demais.

Vejo o castelo ao longe, parece ser da cor cinza, mas quase não dá para ver por causa das plantas que crescem em toda a parede, entro pelo telhado e caminho lá para dentro com um pouco de medo, pois os corredores estão um pouco escuros, entra luz pela janela coberta por plantas, mas é pouco.

Uso meu poder para fazer algumas bolas de energia flutuantes assim iluminando o corredor por onde passo, para ao ver vários quadros.

No quadro tem um homem loiro de olhos verdes  sentado em um trono sozinho, seu olhar é sério, mas ao mesmo tempo sem brilho ou vida.

No segundo quadro ele está no trono enquanto uma mulher morena está atrás com uma roupa de serviçal, ele parece mais tranquilo com ela alí, é a mãe do Amon, a mulher que vi pintada em uma moldura na casa dele.

Quando olho o terceiro travo um pouco por ver  essa mulher segurando dois bebês recém nascidos de cabelo preto, olho melhor para ver o nome escrito na madeira, "Tamali, Amon e #####" está riscado ao ponto de não poder ver nenhuma letra.

Amon tem um irmão gêmeo, como assim? Isso está piorando cada vez mais.

Olho para o próximo e vejo que é o loiro segurando Amon que parece ter dois anos, ele vestiu o filho todo de branco, parece que ele não gostou pois está chorando. Ele era fofinho quando criança e não assustador como é agora. No moldura de madeira está escrito Soleil e Amon.

Só começo a olhar mais rápido, pois preciso achar ele e como esse lugar é enorme vai demorar.

Consegui ver o crescimento dele pelos quadros e o retrato de casamento dos pais dele que só realmente se casaram quando ele tinha 5 a 6 anos  eu acho.

Escuto um som em uma das salas e vou até lá olhar, vejo uma pintura de uma mulher indentica a mim só que com cabelos grandes até depois da cintura e chifres grandes fazendo volta como os de um carneiro.

—sou eu?— falo incrédula, pois pela pintura a óleo da para notar que é antiga, pela assinatura foi Amon que pintou, conheço a caligrafia pelos documentos que assina no castelo.

Eu não entendo, o que estou fazendo em um quadro do primeiro castelo do purgatório? Isso não faz sentido nenhum.

Tem outra porta, acho que Amon está alí, respiro fundo e vou até lá, pois tem muita coisa para me explicar.

Entro lá cautelosa e vejo ele pintando de costas para mim, é um quadro meu agora, do nosso casamento, mesmo vestido e penteado.

—temos muita coisa para  conversar, não é mesmo querido?—  ele se vira e fica me olhando sem saber o que dizer por por um tempo.

Amon —o que exatamente?— só pode estar se fingindo de burro.

—o quadro no cômodo ao lado desse, quem é aquela mulher?— pergunto seria, mas ele volta a pintar sem ligar muito.

Amon —você cabritinha, quem mais séria— sinto um arrepio na minha espinha ao ouvir isso, pois de certa forma é assustador.

—quandos anos aquela pintura tem?— pergunto, pois estou com um pouco de medo.

Amon —acho que uns 500 anos— sua voz está calma o que deixa as coisas piores.

—como você pode ter um quadro meu  sendo que só tenho 21 anos?— pergunto e ele respira fundo e se levanta o que me faz ir para trás.

Amon —você provavelmente não vai acreditar em mim, mas conheci uma mulher a milênios, cabelos castanhos enormes, olhos azuis e chifres grandes que davam volta, seu nome era Eliza, foi o que escreveu em um papel para mim, pois não falava nada.  Seus olhos eram tristes e vazios, mas quando me viu me abraçou forte como se eu fosse importante para ela, era doce, mas se irritava facil— quando ele para de falar apenas me sento em uma cadeira enquanto fico sem entender.

Amon —ela insistiu em ficar perto de mim sempre, era forte e sabia lutar muito bem, era mandona e não gostava de ficar abaixo ou atrás de mim, ela queria sempre ficar por cima, mas não deixava eu me afastar dela. Eu odiava essa mulher, mas ao mesmo tempo gostava, era diferente de todas as outras de alguma forma.

—o que isso signific....

Amon —fiquei anos com ela, muitos mesmo, queria tanto fazer dela minha, mas não queria casar ou dividir o que era meu de direito, ela simplesmente entendeu, nunca pareceu querer mais que ficar perto de mim. Um dia eu acordei sem ela do meu lado, tudo que tinha era um papel dizendo que eu a conheceria no futuro, mas que teria que ter paciência, pois teria que tornar ela útil e forte como a conheci na época— deus.... Isso não faz sentido nenhum, ele conheceu eu do futuro, outra eu?

—foi por isso que me salvou no primeiro ataque quando viu que eu seria morta?— pergunto e ele fica em silêncio.

Amon —você era tão parecida com ela, mas ao mesmo tempo inútil ao ponto  de não conseguir nem se defender— nossa, me ofendeu..

—você nunca me amou, suas palavras não eram para mim, eram para ela!— digo de alguma forma me sentindo traída.

Amon —você é ela, eu sei disso, eu não queria cometer o mesmo erro duas vezes, por isso não matei você, Eli, eu amo você. Sei que a jóia da criação pode criar portais para o passado e futuro, mas com um preço a pagar, por isso acredito que era você mesma— só dou meia volta, pois isso é demais para mim entender.

Quando caminho até a porta vejo essa mesma mulher na minha frente, mas parece apenas uma ilusão, pois consigo passar por ela, mas é impressionante ver como é indentica a mim.

Amon —a mulher das minhas lembranças, fiz a imagem dela aparecer para ti, são tudo que eu tenho dela, lembranças — só caminho em volta da imagem dela que consegue fazer alguns gestos como sorrir, caminhar, fazer cara de brava e mostrar suas presas.

—eu tô me sentindo usada, enganada entre outras coisas— ele simplesmente ficou comigo por lembrar outra mulher.

Amon —eu aprendi a gostar da sua voz, sua personalidade infantil e sua ingenuidade. Sendo realmente ela ou não, isso não importa mais— diz me abraçando por trás de forma forte e quente, eu gosto da quentura dele, da forma que me faz sentir desejada e amada, mas....

—vamos para casa, por favor— digo enquanto sinto ele parar de me abraçar e segurar minha mão.

Ele só me guia para fora do lugar em silêncio, acho que notou que preciso de tempo para pensar em tudo isso que aconteceu.

Rainha do PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora