Capítulo 42

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Eliza

Eu não sei direito o que deveria fazer com essas pilhas de documentos na minha frente, todas as responsabilidades do Adam foram para mim depois de sua morte.

É muita conta para fazer, muita burocracia para saber, muitas decisões que mudarão completamente a vida do meu povo.

Tem cem documentos na minha mesa e só assinei cinco até agora, falta muito ainda, acho que nunca mais irei sair dessa sala novamente.

Escuto a porta atrás de mim a abrir, me viro para ver quem entrou e vejo Atina com uma bandeja de lanches, pelo menos tenho ela para lembrar de mim.

Arina —como está indo em seu trabalho?— pergunta colocando a bandeja no outro lado da mesa para não sujar os papéis.

—nada bem para ser sincera, sei que sou a rainha, tive vários professores, mas meu celebro não quer funcionar, sou péssima em matemática e tem frases que eu não consigo entender de jeito nenhum, tipo, supedânio, que merda isso significa?— falo com minha cabeça já doendo de tanta informação.

Arina —você vai conseguir se acostumar, e para sua tirar sua dúvida, essa palavra significa base ou pilar.— diz com a mesma classe de sempre, nunca a vejo estressada, ou brava, ela tem uma personalidade super estável.

—é como você sabe disso?— pergunto pois o trabalho dela é apenas cuidar do castelo, não tem muitos motivos para precisar saber disso.

Arina —são palavras extremamente antigas, é a rainha, tenho certeza que seu professor de linguagem deve ter ensinado isso a você, mas ficava tão ocupada desenhando o Dante que nem prestava atenção. Até hoje lembro do dia que estava de ensinando sobre defesa pessoal, quando fui olhar para você está espiando o Dante tomando banho de sunga na cachoeira.— travo ao ouvir isso, só pode ser mentira, sei que era obcecada pelo moreno quando criança, mas fazer isso é demais.

—para de brincar Arina.— falo séria.

Arina —mas é verdade, você vivia seguindo e espiando o Dante aonde é que ele fosse, seu apelido era carrapatinha, foi ele mesmo que tinha dado— só vejo os olhos e respiro fundo enquanto tento me convencer que isso é mentira.

—você deveria estar me ajudando e não me distraindo do trabalho.— digo me levantando da cadeira.

Arina —eu sei, eu sei, desculpa por isso, mas é como se fosse ontem. Você era tão linda e fofa quando criança, com o cabelo todo ondulado e cheio, era um pouco mais claro inclusive, cor de mel. Parecia em bichinho de pelúcia de olhos azuis. Dante sempre gostou muito dos seus olhos, foi a primeira coisa que notou em você quando te viu pela primeira vez nos braços de sua mãe. Falava que a única coisa bonita em você era seus olhos da cor do céu.— pera aí, ele dizia que eu era feia, pois foi isso que deu a entender.

—chega de histórias, quero que saia por favor, preciso terminar logo isso antes que chegue mais documentos.— quero só me livrar logo disso.

Arina —certo, não esqueça de comer, está muito atarefada desde ontem, notei que não chegou a comer nada.— não foi por causa dos trabalhos, foi por outra coisa.

Sinto meu rosto a esquentar ao pensar no beijo que Dante me deu, no frio na barriga que senti, na sensação quente que me deixou depois do beijo.

Arina —Eli, você está bem, parecia distraída, inclusive fez uma cada estranhamente confusa.— só me viro ao voltar para realidade.

—esta tudo bem, pode ir.— falo querendo que ela me deixe sozinha logo.

Eu me sinto estranha em saber que sempre fui fixada no Dante, desde pequena, naquela época tudo que eu queria era esquecer ele para parar de sentir e em algum momento consegui, mas agora parece que tudo está voltando ao que era. Eu não quero isso, não quero ser a segunda opção dele.
(...)

Depois de terminar meus trabalhos vou para a mesa de jantar, vejo que todos estão lá, inclusive me esperaram dessa vez, sempre comiam antes.

Me sento em minha cadeira que é bem maior na parte de trás que as outras, mas tem uma igual a essa no outro lado, provavelmente para o meu futuro marido...

Henri —está meio estranha essa semana rainha, aconteceu algo?— Tirando a invasão do Amon ao meu quarto, a ameaça de morte dele, o beijo repentino do Dante, absolutamente nada..

Eu nem sei como reagiria se alguém conseguisse ouvir minha mente, ainda bem que não tem ninguém aqui com essa habilidade.

Cristian —só deve estar demorando a se acostumar com seu novo trabalho.— diz normalmente se servindo de vinho, fico olhando para o líquido vermelho em sua taça o que faz minhas presas aparecerem, engulo seco e tento disfarçar isso.

Eu me pergunto a quanto tempo estou sem beber sangue, eu tinha esquecido completamente de tudo realmente, mas agora que vi aquele líquido preciso beber sangue.

Fico observando as empregadas servirem a comida, logo depois eles ficam olhando para mim, estou sem entender.

Arina —quer dizer algo antes de começarmos a comer?— o que eu deveria falar.

—............—eu realmente não sei o que deveria dizer, algo qualquer? Uma frase animadora por causa da situação preocupante?

Dante —ela não quer dizer nada, só vamos comer logo.— diz sem nem mesmo olhar para mim, é como se aquele beijo nem tivesse existido, pois só passa por mim me ignorando, para mim é óbvio que só fez aquilo por vingança, só estava mesmo devolvendo o que fiz.

Arina —Eli, você está bem?— noto seu olhar preocupado, ela me conhece muito bem, sabe quando fico para baixo, eu odeio mesmo a forma que ela consegue me ler pelo olhar, não quero que as pessoas saibam o que eu sinto.

—não é nada, só vamos voltar a comer.— falo dando a primeira garfada na comida.

Só começamos a comer em silêncio, eu odeio essa paz, Adam faz muita falta pois era ele que animava todo mundo.
(...)

Quando termino de comer e me levanto da cadeira sinto uma tontura que me faz cair sentada no chão, minha visão está rodando e minha barriga está doendo muito agora, sinto como se fosse vomitar, mas só caio no chão.

Dante

Enquanto limpo minha boca, escuto o som de algo, olho em direção a mesa de Eliza, mas não vejo ela ali, não a escutei saindo também, vejo Arina correr em direção a mesa dela, faço o mesmo e só vejo a rainha caída no chão toda descabelada, seu corpo está tremendo.

Pego ela nos braços na hora e corro para informaria no mesmo momento, não preciso ser vidente para saber que alguém colocou algo na comida, pois sua boca começou a espumar.
(...)

Estou sentado na cadeira olhando para Liza dormindo, está recebendo soro e fez uma lavagem estomacal, saber que os inimigos já estão dentro do castelo está me deixando inseguro com minha capacidade de proteger ela.

Pensei que conseguiria deixar ela em segurança, mas não posso controlar todos que trabalham aqui, que saem e entram.

Rainha do PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora